segunda-feira, setembro 15, 2008

Um processo mágico de palavras


um processo mágico de palavras


O golem é um ser artificial mítico associado à tradição simbólica do judaísmo, particularmente à cabala. Este ser pode ser trazido à vida através de um processo mágico de palavras.

O golem foi uma possível inspiração para outros seres criados artificialmente, tal como os homúnculos, o pequeno ser sem corpo, sem peso, sem sexo, e dotado de poder sobrenatural, que os feiticeiros pretendiam fabricar na alquimia, além do moderno Frankenstein da obra de Mary Shelley.

Outros atributos dos golems foram sendo adicionados através dos tempos. Em vários contos, o golem se associa a escrita e a palavras mágicas que o tornam animado, como. escrever um dos Nomes de Deus na sua testa, num papel colado em sua fronte ou numa placa de argila embaixo de sua língua.

Coube ao rabino Judah Loew ben Bezalel, uma sumidade do judaísmo de Praga (cidade onde morreu em 1609) orientando-se pelas instruções existentes no Livro da Criação de Eleazar de Worms (1160-1230), repetir de modo incansável, as palavras, com todas as combinações possíveis ali encontradas a fim de gerar a vida. O ser místico assim criado se associa, a idéia de proteção e de defesa do indivíduo, do seu lugar e de suas idéias.

Séculos depois do episódio lendário de Praga, no ano de 1816, naquela mesma velha Europa, numa certa noite de verão na Vila Diodati, à beira do lago Genebra, na Suíça, os poetas Lord Byron e Percy Shelley discutiam sobre a natureza da origem da vida e de que forma coisas inanimadas poderiam voltar à ter vida.

Na mesma sala, escutando-os atentamente, estava Mary Shelley, mulher de Percy. Mary Shelley não dormiu aquela noite de junho de 1816, pensando nisso. Na sua história, tornada um clássico do gênero, surgiu o doutor Victor Frankenstein. O Golem de Mary Shelley, uma criação de uma escrita ,com palavras serviu para defendê-la do preconceito e da exclusão de sua época, quando clama por um tratamento igualitário. Ela fala na voz de sua criação: "Terei de respeitar o homem quando ele me despreza."; "por toda parte vejo felicidade da qual estou irremediavelmente excluído"

Dar forma a coisa, cria a partir de palavras nos remete ao próprio conceito de informação e por conseqüência ao conhecimento. Ao criar uma escrita através das palavras cada um está moldando o seu próprio Golem, para defender sua causa, suas idéias, seu pensamento.

Este instrumento possível antes só à cultura dominante com o engenho do formato digital ficou permitido ou estendido a qualquer indivíduo. Para todos os patamares da convivência do indivíduo através de seu weblog existe a possibilidade de um espaço onde as palavras criam ali um sujeito mitológico. Um avatar de seu próprio ser que clama participação, voz, inclusão.