quinta-feira, janeiro 23, 2014

O tsunami de bobagem nos discursos de poder




Três são os grandes discursos de poder com influência e força social: o discurso político, o discurso dos meios de comunicação e o discurso da ciência e da tecnologia. 

O discurso político se referencia às embromações do poder politico estabelecido que se fanfarrona, em uma oratória de intenção,  para a construção ou modificação dos fatos sociais e econômicos para uma determinada ambiência. O discurso da ciência e tecnologia e inovação é só uma peça de informação que ganha poder por conta da esperança que coloca para melhor destino do homem. Reveste-se da proteção do segredo e do sagrado por ter uma tradição de credibilidade e de corporativismo ideológico no ramo das grandes esperanças.

O discurso dos meios de comunicação lida com a formação ou deformação da opinião pública na sociedade e quer formatar um maior público comum através da sua visão dos fatos e ideias. O discurso dos meios obedece a fatores e interferências externas imponderáveis e perdeu, em algum lugar do passado, a possibilidade de intermediar os anseios sociais de mediação junto aos demais poderes. Definiu para si uma preferência por um atuar voltado para seus fins, mostrando ao público, sua versão dos fatos cotidianos como um grande espetáculo; optou por um palavreado oco que quer moldar opiniões em assuntos cada vez mais miúdos e quando fala de coisas importantes geralmente descontextualiza e distorce.

Inspira e ilustra esta apreciação a publicação do jornal de maior tiragem no Rio de Janeiro neste, janeiro de 2014 titulado “Tsunami do conhecimento” onde aquela mídia repercute uma pesquisa mal referenciada e de abonação  errônea. Faz uma indicação científica de  que o cérebro dos indivíduos vai se enchendo como um saco ou um disco rígido de computador e ficando por isso cada vez  mais lento e imprestável. Este noticiário absurdo vai contra todo que se conhece no momento sobre a capacidade da memoria e seu poder de esquecimento.

O neurocientista Iván Izquierdo em seu trabalho "Somos também aquilo que decidimos esquecer" indica que para lembrar, é importante esquecer, diz  o professor,  que estuda a persistência da memória e é  um dos maiores especialistas nas funções do cérebro. Ele nos fala  das  várias modalidades de memória e da importância de apagar lembranças.  Algumas dessas memórias duram segundos diz ele; outras ficam por toda a vida. Mas para guardar novas informações  é preciso apagar antigas.

Portanto, esquecer memórias nos faz bem e é um processamento funcional do cérebro humano. Existem várias memórias: a de trabalho dura poucos segundos ou minutos. Por exemplo, uma palavra da minha frase anterior permaneceu apenas o suficiente para você entender o que veio antes e depois diz. Há ainda a memória de poucas horas ou curta duração;  elas duram cerca de seis horas e são armazenadas provisoriamente. As memórias de forte conteúdo emocional são gravadas com uma atuação de vias nervosas que controlam as emoções. Portanto, memória é um assunto complexo e com estudos em andamento.

Entendemos por nosso longo trato com a informação em ciência e tecnologia,  que a densidade cognitiva corresponde à qualidade do saber acumulado na memória, por nossas percepções prévias. Esta densidade representa um conjunto de atos contínuos, que se acrescentam no tempo; obras pelo qual o indivíduo reelabora seu mundo em uma criação que faz em convivência no passar do tempo. Uma relação constante de adaptação entre a massa e o volume.

Santo Agostinho, também, nos fala sobre a densidade da memória: "Lá estão guardados todos os nossos pensamentos, as aquisições de nossos sentidos se ainda não foi sepultado ou absorvido pelo esquecimento."  A interatuação de um sujeito com os seus depósitos de memória potencializa o espectro temporal de seu destino indicando, que existem tempos marcados, para reconfigurar moradas da memória e sua permanência definitiva nestes domicílios.

Com o computador pessoal dizemos: vou entrar em um arquivo indicando a ideia de viagem e permanência no local de memória física que se acumula; mas o disco rígido pode e é  limpo  ou apagado quando a informação não interessa mais.  A analogia destes conceitos ao do crescimento dos estoques de memória leva a crer que estas estruturas de armazenagem tendem a crescer em volume de maneira periódica e cumulativa, como nossa memória, mas tendo em determinado momento enfrenta o problema de adaptação do volume à forma. Para isso existem estratégias de ajustamento pelo esquecer, pois os estoques ultrapassados tenderão a quebrar por seu próprio peso irrelevante e serão deslembrados.

Mas a mídia em sua vontade espetaculosa tem a irracionalidade evanescente dos fantasmas  e sem pestanejar discursa sobre o que não conhece apoiada na dualidade de outro discurso de poder que assume sem referência adequada saber não estabelecido.

Aldo de A Barreto
2014

Notas:

1- “A Mente Humana”, Iván Izquierdo


2- Santo Agostinho tem um capitulo sobre a memória em “Confissões”

3- Gift colhido na internet e baseado na capa da revista COSMO, Nord, Milano,Italia 1993