quinta-feira, abril 03, 2014

O traumático nem sempre é aquilo que faz ruído e sim o que fica mudo




O traumático nem sempre é aquilo que faz ruído e sim o que fica mudo

Jane Goodall,  primatologista britânica faz 80 anos. A legendaria Jane Goodall  é celebrada não só como a maior especialista em chimpanzés do mundo, mas também como uma mente notável que une o rigor da ciência com a sensibilidade da espiritualidade.

Em relação aos chimpanzés temos uma fascinante historia que nos conta Rosa Montero em seu livro "A louca da casa": 

"A chimpanzé se chamava Lucy e era do Quênia. Fora adotada por um casal de biólogos ingleses, que a pegaram ainda bebê, depois a criaram dentro de casa como se fosse humana e lhe ensinaram a linguagem dos surdos mudos, o que, aliás, não é nada extraordinário, porque muitos primatas já aprenderam a entender e usar esse código gestual.

Passaram-se assim muitos anos, talvez quinze ou vinte, e os biólogos se aposentaram e tiveram que voltar para Londres. Era impossível levar Lucy consigo, de maneira que a deixaram num zoológico.

De novo passaram-se longos anos; e afinal um professor de crianças deficientes que passava as férias na África foi visitar o jardim zoológico e deu com um chimpanzé agarrado às barras da jaula e fazendo gestos absurdos e frenéticos dirigidos a qualquer um que estivesse por perto.

O professor, curioso, também se aproximou; e ficou paralisado quando percebeu que entendia o que o animal estava dizendo. Era Lucy que, na linguagem dos surdos-mudos, pedia desesperadamente a todo mundo: "Tirem-me daqui, me tirem-me daqui, tirem-me daqui"."

O traumático nem sempre é aquilo que faz ruído, e sim o que fica mudo.


Jane Goodall