Os três tempos da ciência da informação
Uma explosão de conteúdos aconteceu quando o volume de informação impressa disponibilizada no pós-guerra de 1945 mudou o regime de informação existente e necessitou de um novo instrumental de: recursos humanos, acervamento, processamento e recuperação dos documentos estocados para atender a um novo fluxo da demanda. Hoje com a condição online os estoques e os fluxos de informação, renomeados para “Big Data”, são multidirecionados e levam condições virtuais em seu desatamento, quando o tempo se aproxima de zero, a velocidade se acerca do infinito e os espaços são de vivência pela não presença.
A chegada de uma sociedade eletrônica de informação modificou a delimitação de tempo e espaço dos conteúdos em relação aos receptores. Mas, a explosão de informação de que discorriam Vannevar Bush e Dereck de Solla Price no ambiente de pós guerra mundial foi minorada pelo computador no tempo possível.
Penso que existem três tempos na ciência da informação sem colocar uma separação das suas práticas e ideias em tempos já fechados. A intenção é assinalar o pendor para um determinado foco, de acordo com o passar do tempo:
– Tempo da gestão e controle da informação indo 1945 à 1980;
– Tempo da interiorização do conhecimento entre 1980 à1995;
– Tempo do ciberespaço de 1995 até os dias atuais.
Ao indicar três tempos para a ciência da informação não se coloca uma separação de ideias e práticas em tempos fechados. A intenção é assinalar a vertente para um determinado ponto, de acordo com, o pensar de cada época.
[tempo 1] As questões, de gerência de informação, por exemplo, tem uma constância, que prossegue até os dias atuais. Mas durante os anos no pós-guerra, este era o principal problema a ser resolvido: ordenar, organizar e controlar uma explosão de informação tipo “big data”. Assim, no tempo da gestão foi necessário estabelecer metodologias de redução de conteúdo completo do documento usando indicadores deste conteúdo. Assim, um documento de trezentas paginas, por exemplo poderia ser substituído por: suas indicações bibliográficas, localização no estoque e um determinado número palavras chaves descrevendo o texto.
Auxiliava esta redução um universo simbólico de ocasião substituindo a linguagem natural; uma linguagem, controlada, na intenção de ao usar menos palavras para identificar o texto na entrada para facilitar sua recuperação na saída. A era da gestão trouxe o esplendor das classificações, indexações, tesauros, medidas de eficiência de recuperação de textos, a sua relevância e precisão considerando o estoque específico.
Mas, este era o problema de uma época e tinha de ser resolvido. Com a baixa no custo de armazenagem, o computador foi sendo liberado, para os problemas de processamento de conteúdos e foi possível, então, lidar com a questão do volume e do controle da informação. Contornado o problema gerencial do estoque da informação, a área passou a se ocupar com esquemas de como gerar conhecimento no individuo e para sua realidade a partir daquela informação acervada.
[tempo 2] A assimilação correta da narrativa de informação passou a ser a intenção principal do tempo de interiorização do conhecimento permitido pelas condições cognitivas do sujeito. Existem controvérsias quanto às raízes do cognitivismo como um pensamento predominante do período. Parece haver alguma aceitação, que um início pode ter sido um Simpósio sobre Teoria da Informação, realizado no Massachusetts Institute of Technology em setembro de 1956, onde, apresentaram artigos inéditos, figuras importantes do novo pensar como: Herbert Simon, [1], Noan Chomsky [2] e Claude Shanhon [3].
O certo é que nos anos 60 encontramos os autores e atores estudando o comportamento da apropriação do conhecimento com as características do refletir cognitivista, que estava em todos os campos e uma a discussão sem uma base conceitual cognitivista corria sério risco de isolamento. Na ciência da informação o cognitivismo foi iniciado nos anos setenta por: Nick Belkin [4], Gernot Wersig, U. Nevelling [5] e colegas. A condição da informação passou a ser sua “intensão” em gerar o conhecimento no indivíduo e em sua realidade.
O conhecimento seria organizado em estruturas mentais por meio das quais um sujeito assimila a “coisa” informação. Conhecer significaria um ato de interpretação individual, uma apropriação do objeto pelas estruturas mentais de cada sujeito. Estas estruturas não estariam pré-formatadas no sentido de serem programadas nos genes. As estruturas mentais são construídas pelo sujeito sensível que percebe o meio.
Com o foco na relação da informação e do conhecimento, modificou-se a importância relativa da gestão dos estoques de informação passando-se a apreciar a ação de informação na coletividade. Se antes havia uma razão prática e uma premissa técnica e produtivista para a administração e o controle dos estoques, agora a reflexão e a pesquisa passaram a considerar as condições da melhor forma de passagem da informação para a realidade dos receptores; a promessa do conhecimento teria que ajustar o indivíduo, seu bem estar e suas competências para lidar com narrativas de informação. A premissa produtivista da gestão transformou-se em promessa de saber.
[tempo 3] Localizamos o tempo do ciberespaço, como o momento, a partir de 1990 em que a relação informação e conhecimento assumiram um novo status após a internet e a world wide web. Embora, os primeiros esforços de uma rede mundial de computadores seja mais remota foi só em 1989 que Tim Berners-Lee, cidadão inglês, tecnologista da informação, trabalhando no European Organization for Nuclear Research, Center – Cern, escreveu os primeiros softwares que permitiram a atual configuração gráfica da web e a partir daí o desenvolvimento popular da Internet.
Os espaços de informação em uma visão simplista seriam os estoques institucionalizados de informação. Sempre que os delimitadores destes o espaço incluírem o desenvolvimento de uma condição pensamento e uma escrita haverá ambiente para o se estabelecer diferentes tempos de informação como na figura 1.
Pierre Lévy desenvolve uma teoria sobre os espaços antropológicos, reservando um espaço para o saber . É neste espaço que se desenvolve a sua proposta de inteligência coletiva. O espaço antropológico é reconhecido por Pierre Lévy como um “sistema de proximidade próprio do mundo humano”. O qual depende de técnica, linguagem, cultura, significações, convenções, representações e emoções humanas. Nestes espaços de Lévy podemos adequar os três tempos da ciência da informação.
Um espaço antropológico nasce da “interação entre pessoas”. Os espaços antropológicos são como super espaços. O que é de grande valor em um espaço pode não ser em um outro. Daí a importância de reconhecer as condições dos espaços nos quais vivemos e daqueles os quais somos levados a viver. (Lévy, 1999). Nestes espaços de Lévy podemos adequar os três tempos da ciência da informação.
Outros autores buscam delimitar espaços de vivência e convivência. Em seu livro “Man place in the nature”, Teilhard de Chardin passa de uma espaço da biosfera inicial para uma noosfera de hominização da espécie caracterizada pela condição do pensar. No seu livro “A condição humana” Hanna Arendt, relaciona três espaços da vida ativa: o labor o trabalho e a ação. A ação é o espaço da condição humana exercida em conjunto com outros homens, quando este exerce a sua condição de inteligência para introduzir o conhecimento no seu espaço de convivência.
Em todos os espaços projetados por ideações diferentes poderemos sempre associar diferentes tempos de relacionamento com a informação como os colocados na figura 1.