domingo, outubro 02, 2016

Os três tempos da ciência da informação


3 tempos Roland Shainidze

Uma explosão de conteúdos aconteceu quando o volume de informação impressa disponibilizada no pós-guerra de 1945 mudou o regime de informação existente e necessitou de um novo instrumental de: recursos humanos, acervamento, processamento e recuperação dos documentos estocados para atender a um novo fluxo da demanda. Hoje com a condição online os estoques e os fluxos de informação, renomeados para “Big Data”, são multidirecionados e levam condições virtuais em seu desatamento, quando o tempo se aproxima de zero, a velocidade se acerca do infinito e os espaços são de vivência pela não presença.
A chegada de uma sociedade eletrônica de informação modificou a delimitação de tempo e espaço dos conteúdos em relação aos receptores. Mas, a explosão de informação de que discorriam Vannevar Bush e Dereck de Solla Price no ambiente de pós guerra mundial foi minorada pelo computador no tempo possível.
Penso que existem  três tempos na ciência da informação sem colocar uma separação das suas  práticas e ideias em tempos já fechados. A intenção é assinalar o pendor para um determinado foco, de acordo com o passar do tempo:
– Tempo da gestão e controle da informação  indo  1945 à 1980;
–   Tempo da interiorização do conhecimento  entre 1980 à1995;
–     Tempo do ciberespaço de 1995 até os dias atuais.

3 t3mos
Ao indicar três tempos para a ciência da informação não se coloca uma separação de ideias e práticas em  tempos fechados. A intenção é assinalar a vertente para um determinado ponto, de acordo com, o pensar de cada época.
[tempo 1] As questões, de gerência de informação, por exemplo, tem uma constância, que prossegue  até os dias atuais. Mas durante os anos no pós-guerra, este era o principal problema a ser resolvido: ordenar, organizar e controlar uma explosão de informação tipo “big data”.   Assim, no tempo da gestão foi necessário estabelecer metodologias de redução de conteúdo completo do documento  usando indicadores deste conteúdo. Assim,  um documento de trezentas paginas, por exemplo poderia ser  substituído por:  suas indicações bibliográficas,  localização no estoque e um determinado número palavras chaves descrevendo o texto.
Auxiliava esta redução  um universo simbólico de ocasião substituindo a linguagem natural; uma linguagem, controlada, na intenção de ao usar menos palavras para identificar o texto na entrada para facilitar sua recuperação na saída. A era da gestão trouxe o esplendor das classificações, indexações, tesauros, medidas de eficiência de recuperação de textos, a sua relevância  e precisão considerando o estoque específico.
Mas, este era o problema de uma época e tinha de ser resolvido. Com a baixa no custo de armazenagem, o computador foi sendo liberado, para os problemas de processamento de conteúdos e foi possível, então, lidar com a questão do volume e do controle da informação. Contornado o problema gerencial do estoque da informação, a área passou a se ocupar com esquemas de como gerar conhecimento no individuo e para sua realidade a partir daquela informação acervada.
[tempo 2] A assimilação correta da narrativa de informação passou a ser  a intenção principal  do tempo de interiorização do conhecimento permitido pelas condições cognitivas do sujeito.  Existem controvérsias quanto às raízes do cognitivismo como um pensamento predominante do período. Parece haver alguma aceitação, que um início pode ter sido  um Simpósio sobre Teoria da Informação, realizado no Massachusetts  Institute of Technology  em setembro de 1956, onde, apresentaram artigos inéditos, figuras importantes do novo pensar como:  Herbert Simon, [1], Noan Chomsky [2] e Claude Shanhon [3].
O certo é que nos anos 60 encontramos os autores e atores estudando o comportamento da apropriação do conhecimento com as características do refletir cognitivista, que estava em todos os campos  e  uma a discussão sem uma base conceitual cognitivista corria sério risco de isolamento.  Na ciência da informação o cognitivismo foi iniciado nos anos setenta por: Nick Belkin [4], Gernot Wersig, U. Nevelling [5] e colegas. A condição da informação passou a ser sua “intensão” em gerar o conhecimento no indivíduo e em sua realidade.
O conhecimento  seria organizado em estruturas mentais por meio das quais um sujeito assimila a “coisa” informação. Conhecer significaria um ato de interpretação individual, uma apropriação do objeto pelas estruturas mentais de cada sujeito. Estas estruturas  não estariam pré-formatadas no sentido de serem programadas nos genes. As estruturas mentais são construídas pelo sujeito sensível que percebe o meio.
Com o foco na relação da informação e do conhecimento, modificou-se a importância relativa da gestão dos estoques de informação passando-se a apreciar a ação de informação na coletividade. Se antes havia uma razão prática e uma premissa técnica e produtivista para a administração e o controle dos estoques, agora a reflexão e a pesquisa passaram a considerar as condições da melhor forma de passagem da informação para a realidade dos receptores; a promessa do conhecimento teria que ajustar o indivíduo, seu bem estar e suas competências para lidar com narrativas de informação. A  premissa produtivista da gestão transformou-se em promessa de saber.
[tempo 3] Localizamos o tempo do ciberespaço, como o momento, a partir de 1990 em que  a relação informação e conhecimento assumiram um novo status após a internet e a  world wide web. Embora, os primeiros esforços de uma rede mundial de computadores seja mais remota foi só em 1989 que Tim Berners-Lee, cidadão inglês, tecnologista da informação, trabalhando no European Organization for Nuclear Research, Center – Cern, escreveu os primeiros softwares que permitiram a atual configuração gráfica da web e a partir daí o desenvolvimento popular da Internet.
Os espaços de informação em uma visão simplista seriam os estoques institucionalizados de informação. Sempre que os delimitadores destes o espaço incluírem o desenvolvimento de uma condição  pensamento e uma escrita haverá ambiente para o se estabelecer diferentes tempos de informação como na figura 1.
Pierre Lévy desenvolve uma teoria sobre os espaços antropológicos, reservando um   espaço para o saber . É neste espaço que se desenvolve a sua proposta de inteligência coletiva. O espaço antropológico é reconhecido por Pierre Lévy  como um “sistema de proximidade próprio do mundo humano”. O qual depende de técnica, linguagem, cultura, significações, convenções, representações e emoções humanas. Nestes espaços de Lévy podemos adequar os três tempos da ciência da informação.
Um espaço antropológico nasce da “interação entre pessoas”. Os espaços antropológicos são como super espaços. O que é de grande valor em um espaço pode não ser em um outro. Daí a importância de reconhecer as condições dos espaços nos quais vivemos e daqueles os quais somos levados a viver. (Lévy, 1999). Nestes espaços de Lévy podemos adequar os três tempos da ciência da informação.
Outros autores buscam delimitar espaços de vivência e convivência. Em seu livro “Man place in the nature”, Teilhard de Chardin passa de uma espaço da biosfera inicial para uma noosfera de hominização da espécie caracterizada pela condição do pensar. No seu livro “A condição humana” Hanna Arendt,  relaciona três espaços da vida ativa: o labor o trabalho e a ação.  A ação é o espaço da condição humana exercida em conjunto com outros  homens, quando este exerce a sua condição de inteligência para introduzir o  conhecimento no seu espaço de convivência.
Em todos os espaços projetados por ideações diferentes poderemos sempre associar diferentes tempos de relacionamento com a informação como os colocados na figura 1.

sexta-feira, dezembro 25, 2015

Eros é Tânatos - A revista Datagramazero não circulara mais





Eros e Tânatos

Este numero de dezembro 2015 é o ultimo número da Revista Datagramazero. A Revista Datagramazero não circulará mais.

Infelizmente o imponderável me vez uma visita e  terei que finalizar a circulação do Datagramazero com o numero de dezembro de 2015. A revista é toda feita por mim e não tenho mais condições de operar isso.

Iniciar o Datagramazero em novembro de 1977 foi um sonho e uma audácia. Não havia uma revista eletrônica privilegiando a Ciência da Informação com uma visão ampla da área e suas inter-relações com outras áreas. Nas palavras de J. L. Borges: “é preciso ser fiel ao sonho e não às circunstâncias”. com o Datagramazero as palavras começaram, em certo sentido, como mágica a formar um conteúdo de um periódico e digital. “Como associando ao traço visível à coisa invisível, a coisa ausente … As palavras e os conteúdo escolhidos nos significam e  definem uma Revista e identificam, também, aqueles que tratam conosco. Escrever é um lamento ou canção de amor não correspondido.”

Com o passar do tempo o Datagramazero foi sendo todo realizado só por mim como uma atividade lúdica e prazerosa. Por cerca de treze anos fiz a revista sozinho. Mas é preciso lembrar que existe a adversidade que aparece como coisa imponderável, a circunstância inesperada que chega poderosa e superveniente na nossa realidade. Nesses momentos passamos a viver no pequeno espaço de um vazio temporal, como na indeterminação entre dois estados.

É preciso saber conviver com a adversidade nas batalhas da vida e estar sempre preparado para vivenciar o efêmero  que existe mais esta desaparecendo para um fim e lidar com o e o imponderável das  das circunstâncias  inesperadas que chegarão poderosas e definitivas.

No momentos atual vivenciamos a complexidade emocional destas configurações passamos e passamos a viver no  pequeníssimo e indeterminado espaço de um vazio temporal, um  estado ondes as circunstâncias são tão fortes que vencerão o sonho.


Aldo de Albuquerque Barreto
editor do Datagramazero

domingo, outubro 26, 2014

Palavras






Jorge Luis Borges nos diz: "é preciso ser fiel ao sonho e não às circunstancias.....as palavras começam, em certo sentido, como mágica.  Associando  ao traço visível à coisa invisível, a coisa ausente que é desejada ou temida, como frágil passarela improvisada sobre o abismo". As palavras nos significam  e nos definem e identificam e nos ligam àqueles que tratam conosco na alegria, na tristeza e quando do esquecimento. Escrever pode, então, ser um lamento ou uma canção de amor não correspondido. Esta escrita de agora é o meu lamento no dia 26 de outubro de 2014.

“O rumor da língua” pode ser lido  em “Fragmentos”onde encontramos o texto de Barthes: “Malogramos sempre ao falar do que amamos”, originalmente destinado a um colóquio sobre Stendhal em Milão. Acredita-se ser este o último dos trabalhos de Barthes. Depois de manuscrevê-los, ele os datilografava, fazendo pequenas alterações. A segunda página de “Malogramos sempre...” estava na sua máquina de escrever em 25 de fevereiro de 1980.

Naquele dia, Barthes foi atropelado  por uma caminhonete em frente ao College de France, onde ministrava um curso sobre Marcel Proust e a fotografia. Morreu num hospital não muito distante, um mês depois, a 26 de março. Barthes começa “Malogramos sempre ao falar do que amamos” narrando um episódio acontecido na estação de Milão. Da plataforma, numa noite fria e nevoenta, ele vê partir um trem destinado a Lecce. Imagina-se viajando para lá, até, ao amanhecer, atingir a luz com doçura e calma fantasiadas. (Barthes jamais conheceu a cidade da Puglia.)

Saído do transe, logo lembra-se de parodiar Stendhal: “Então eu vou ver essa bela Itália! Como ainda sou louco nesta minha idade!” E acrescenta uma frase que, na minha opinião, torna o título da palestra um hino à alegria: “Porque a bela Itália está sempre longe, noutra parte.?”

Para “Malogramos”, o que acontece  é usar a escrita como uma potência de defesa, fruto provável de uma  iniciação, que desfaz a imobilidade estéril do imaginário amoroso e dá à a nossa aventura uma generalidade simbólica.”

Como se lê, não nada há no último texto de Barthes que antecipe a sua morte eminente. Ao contrário, o que ele nos reafirma é a vida, é o caráter transcendente da arte com sua possibilidade de se tentar dar sentido a essa coisa toda.  Tomada como paradigma do paraíso ou de refúgio da lembrança  a cidade de Lecce está sempre longe, noutra parte. Mas nós sempre teremos Lecce.

Concluo esta escrita agora porque como um velho docente  e  não podendo mudar nada, pois  sequer  sou chamado a opinar em minha área,  procuro sanar em meu peito esta minha imobilidade estéril,  com o que pelo menos posso fazer:  a escrita meu refúgio simbólico, meu lamento de amor, alegria e tristeza.

Aldo Barreto
26 de outubro de 2014

imagem de Tom Baetsen - xlix.nl

quinta-feira, abril 03, 2014

O traumático nem sempre é aquilo que faz ruído e sim o que fica mudo




O traumático nem sempre é aquilo que faz ruído e sim o que fica mudo

Jane Goodall,  primatologista britânica faz 80 anos. A legendaria Jane Goodall  é celebrada não só como a maior especialista em chimpanzés do mundo, mas também como uma mente notável que une o rigor da ciência com a sensibilidade da espiritualidade.

Em relação aos chimpanzés temos uma fascinante historia que nos conta Rosa Montero em seu livro "A louca da casa": 

"A chimpanzé se chamava Lucy e era do Quênia. Fora adotada por um casal de biólogos ingleses, que a pegaram ainda bebê, depois a criaram dentro de casa como se fosse humana e lhe ensinaram a linguagem dos surdos mudos, o que, aliás, não é nada extraordinário, porque muitos primatas já aprenderam a entender e usar esse código gestual.

Passaram-se assim muitos anos, talvez quinze ou vinte, e os biólogos se aposentaram e tiveram que voltar para Londres. Era impossível levar Lucy consigo, de maneira que a deixaram num zoológico.

De novo passaram-se longos anos; e afinal um professor de crianças deficientes que passava as férias na África foi visitar o jardim zoológico e deu com um chimpanzé agarrado às barras da jaula e fazendo gestos absurdos e frenéticos dirigidos a qualquer um que estivesse por perto.

O professor, curioso, também se aproximou; e ficou paralisado quando percebeu que entendia o que o animal estava dizendo. Era Lucy que, na linguagem dos surdos-mudos, pedia desesperadamente a todo mundo: "Tirem-me daqui, me tirem-me daqui, tirem-me daqui"."

O traumático nem sempre é aquilo que faz ruído, e sim o que fica mudo.


Jane Goodall

sexta-feira, fevereiro 21, 2014

Coisas em que eu acredito: a ciência da Informação e sua diferenciação


Em meu trabalho nestes anos acredito que a informação sintoniza o mundo, pois referencia o homem  ao seu passado histórico,  às suas cognições prévias  e ao seu espaço de com(vivência), colocando-o  em um ponto do presente, com uma memória  do passado e uma perspectiva de  futuro. No  presente está o espaço de apropriação da informação pelo o indivíduo. A temática sobre a informação pode ser apreendida em uma graduação que possui um conteúdo e uma temática voltada para a formação profissional ou  em um curso de pós-graduação com o objetivo de formar  para a pesquisa e comprometida com o avanço do conhecimento no campo de conhecimento. São dois níveis de ensino e aprendizado e sua estratégia disciplinar se diferencia em razão de seu objetivo.

Acredito que qualquer reflexão sobre as condições políticas, econômicas ou sociais de um produto ou serviço de informação está condicionada a uma premissa básica da existência de  uma relação entre a informação e a  geração do conhecimento.

Existe, creio  uma ambiência de articulação desta relação com o conhecimento em  que os fluxos de informação se movimentam em dois  níveis: em um primeiro nível temos os fluxos internos de informação  que se movem entre os elementos de um sistema de agregação, armazenamento e recuperação da informação, e se orientam para um destino de organização e controle. Estes fluxos internos se agregam por uma premissa de razão prática e produtivista com um conjunto de ações pautadas por decisões de um agir baseado em princípios de uma prática estabelecida. 



(clique para aumentar)


Em outro nível existem  fluxos extremos.    No fluxo extremo a direita, a premissa se transforma na promessa, uma promessa de que a informação gerada pelo autor  possa ser assimilada como conhecimento pelo receptor. No extremo esquerdo do fluxo se realiza um fenômeno de transferência do pensamento do autor para um inscrição de informação cuja Essência está na passagem de uma experiência, de um fato ou uma ideia, que está em uma linguagem de pensamento  para um texto de informação editado. Um  fluxo duas linguagens.

No fluxo à direita temos um processo de cognição que  transforma a informação em conhecimento.  Uma apropriação da informação pública para um  subjetivismo que se quer privado. Um desfalecer da informação para renascer conhecimento. No fluxo  a esquerda acontece  uma desapropriação  cognitiva, quando o pensamento, do autor, se arranja em informação, em uma linguagem com inscrições próprias. Aqui a passagem ocorre na direção dos  labirintos do pensar privado do autor para um espaço de vivência pública do leitor. Uma pulsão de criação.  

Acredito que estes fluxos indicam as possíveis dissensões entre a biblioteconomia e a ciência da informação; a ciência da informação centrada em estudos dos fluxos extremos e a biblioteconomia realizando os fluxos internos do sistema  de armazenamento e recuperação da informação e disseminação da informação,

Aldo de Albuquerque Barreto

Revisto em 2014 

quinta-feira, janeiro 23, 2014

O tsunami de bobagem nos discursos de poder




Três são os grandes discursos de poder com influência e força social: o discurso político, o discurso dos meios de comunicação e o discurso da ciência e da tecnologia. 

O discurso político se referencia às embromações do poder politico estabelecido que se fanfarrona, em uma oratória de intenção,  para a construção ou modificação dos fatos sociais e econômicos para uma determinada ambiência. O discurso da ciência e tecnologia e inovação é só uma peça de informação que ganha poder por conta da esperança que coloca para melhor destino do homem. Reveste-se da proteção do segredo e do sagrado por ter uma tradição de credibilidade e de corporativismo ideológico no ramo das grandes esperanças.

O discurso dos meios de comunicação lida com a formação ou deformação da opinião pública na sociedade e quer formatar um maior público comum através da sua visão dos fatos e ideias. O discurso dos meios obedece a fatores e interferências externas imponderáveis e perdeu, em algum lugar do passado, a possibilidade de intermediar os anseios sociais de mediação junto aos demais poderes. Definiu para si uma preferência por um atuar voltado para seus fins, mostrando ao público, sua versão dos fatos cotidianos como um grande espetáculo; optou por um palavreado oco que quer moldar opiniões em assuntos cada vez mais miúdos e quando fala de coisas importantes geralmente descontextualiza e distorce.

Inspira e ilustra esta apreciação a publicação do jornal de maior tiragem no Rio de Janeiro neste, janeiro de 2014 titulado “Tsunami do conhecimento” onde aquela mídia repercute uma pesquisa mal referenciada e de abonação  errônea. Faz uma indicação científica de  que o cérebro dos indivíduos vai se enchendo como um saco ou um disco rígido de computador e ficando por isso cada vez  mais lento e imprestável. Este noticiário absurdo vai contra todo que se conhece no momento sobre a capacidade da memoria e seu poder de esquecimento.

O neurocientista Iván Izquierdo em seu trabalho "Somos também aquilo que decidimos esquecer" indica que para lembrar, é importante esquecer, diz  o professor,  que estuda a persistência da memória e é  um dos maiores especialistas nas funções do cérebro. Ele nos fala  das  várias modalidades de memória e da importância de apagar lembranças.  Algumas dessas memórias duram segundos diz ele; outras ficam por toda a vida. Mas para guardar novas informações  é preciso apagar antigas.

Portanto, esquecer memórias nos faz bem e é um processamento funcional do cérebro humano. Existem várias memórias: a de trabalho dura poucos segundos ou minutos. Por exemplo, uma palavra da minha frase anterior permaneceu apenas o suficiente para você entender o que veio antes e depois diz. Há ainda a memória de poucas horas ou curta duração;  elas duram cerca de seis horas e são armazenadas provisoriamente. As memórias de forte conteúdo emocional são gravadas com uma atuação de vias nervosas que controlam as emoções. Portanto, memória é um assunto complexo e com estudos em andamento.

Entendemos por nosso longo trato com a informação em ciência e tecnologia,  que a densidade cognitiva corresponde à qualidade do saber acumulado na memória, por nossas percepções prévias. Esta densidade representa um conjunto de atos contínuos, que se acrescentam no tempo; obras pelo qual o indivíduo reelabora seu mundo em uma criação que faz em convivência no passar do tempo. Uma relação constante de adaptação entre a massa e o volume.

Santo Agostinho, também, nos fala sobre a densidade da memória: "Lá estão guardados todos os nossos pensamentos, as aquisições de nossos sentidos se ainda não foi sepultado ou absorvido pelo esquecimento."  A interatuação de um sujeito com os seus depósitos de memória potencializa o espectro temporal de seu destino indicando, que existem tempos marcados, para reconfigurar moradas da memória e sua permanência definitiva nestes domicílios.

Com o computador pessoal dizemos: vou entrar em um arquivo indicando a ideia de viagem e permanência no local de memória física que se acumula; mas o disco rígido pode e é  limpo  ou apagado quando a informação não interessa mais.  A analogia destes conceitos ao do crescimento dos estoques de memória leva a crer que estas estruturas de armazenagem tendem a crescer em volume de maneira periódica e cumulativa, como nossa memória, mas tendo em determinado momento enfrenta o problema de adaptação do volume à forma. Para isso existem estratégias de ajustamento pelo esquecer, pois os estoques ultrapassados tenderão a quebrar por seu próprio peso irrelevante e serão deslembrados.

Mas a mídia em sua vontade espetaculosa tem a irracionalidade evanescente dos fantasmas  e sem pestanejar discursa sobre o que não conhece apoiada na dualidade de outro discurso de poder que assume sem referência adequada saber não estabelecido.

Aldo de A Barreto
2014

Notas:

1- “A Mente Humana”, Iván Izquierdo


2- Santo Agostinho tem um capitulo sobre a memória em “Confissões”

3- Gift colhido na internet e baseado na capa da revista COSMO, Nord, Milano,Italia 1993

segunda-feira, novembro 11, 2013

A pesquisa em ciência da informação está estacionada no passado?



A Ciência da Informação se preocupa com os princípios e práticas da criação, organização e distribuição da informação. Assim como, com o estudo dos fluxos da informação desde sua criação até a sua utilização e tem a sua disseminação ao receptor em uma variedade de formatos, através de uma variedade de canais. É dependente das tecnologias intensas de comunicação e informação. Por esta razão para uma área  que esta permanentemente se refazendo  não é fácil determinar seus temas para uma pesquisa de ponta. 

Temas como  a organização e controle da informação e seus instrumentos, a comunicação cientifica, estoques acervados e a mediação para o conhecimento tem participado como núcleo forte desde Paul Otlet até Tim Barnes-lee; mas para uma área altamente envolvida com a tecnologia alguns temas  se mostram emergentes. Este parece ser um problema para a construção de um arcabouço teórico desta área, pois como a mudança nas práticas anda sempre rápida e na frente,  a teoria (e a pesquisa) parecem vir a reboque,  correndo atrás para explicá-la e situa-la em um fragmentado corpo de difícil consenso.

Se, intuitivamente incluíssemos alguns itens para mostrar os temas de pesquisas na fronteira do conhecimento da área, teríamos em minha opinião:
  
1- Conhecer, registrar, organizar e distribuir conteúdos digitais armazenado em estoques eletrônicos no ciberespaço;

2- Conhecer e mediar o processo de produção, distribuição e consumo da informação em novas mídias considerando, ainda, a difusão multimídia;  

3- Facilitar a ação de integração social de conteúdos, através das redes eletrônicas, fortalecendo a participação em comunidades eletrônicas;

4- Promover a fluência digital como uma forma de instrução para operar novos instrumentos de acesso e interatuação com narrativas de informação digital;

5 - Estimular o desenvolvimento e a competência para fundar e operar repositórios digitais de livre acesso a informação;

6- Promover ambientes informacionais abertos nos quais o usuário  possa  modificar conteúdos já estocados  de informação dentro de um contexto consensual;

7- Prever e promover a formação e a integridade de ambientes colaborativos estabelecendo regras para seus integrantes;

8 - Pesquisar a emergência de uma condição visual de interatuar com conteúdos e, assim,  lidar com novas condições de escrita e leitura;

9 - Pesquisar a recuperação interativa de conteúdos e imagens de formato digital;

10 -  Estudar a organização da informação em ciberblocos como novos  espaços semânticos de conteúdos na web.

Contudo parece que não estamos indo neste caminho na área de ciência da informação. Em recente artigo de Gustavo LiberatoreI e Víctor Herrero-Solana publicado em publicado na Base Scielo <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-37862013000300005&script=sci_arttext>, denominado  "Caracterización temática de la investigación en Ciencia de la Información en Brasil" tem como objetivo analisar os principais temas de interesse no domínio da investigação científica na área da ciência da informação no Brasil durante a primeira década do século XXI. Para isso analisou os temas correspondente ao conteúdo da produção científica publicada em quatro grandes revistas nacionais da disciplina: Revista Ciência da Informação , DataGramaZero , Perspectivas em Ciência da Informação e Transinformação .

 A metodologia usada na pesquisa indicada foi à análise de coocorrência de palavras e a sua representação e interpretação através da análise em rede social com as áreas propostas pela Ancib em seus grupos. Os indicadores finais foram compostos por 2.498 entradas de palavras pertencentes aos 965 itens processados. Temos então  três quadros que indicariam a qualidade dos temas da pesquisa da área no Brasil:

Frequência das palavras nas pesquisas: (click para ampliar)


 O núcleo central da coocorrência: (click para ampliar)


 E a integração com os grupos de estudo da associação cientifica da área na época da pesquisa: (click para ampliar)




 Podemos apreciar nos quadros da pesquisa realizada por LiberatoreI e Herrero-Solana, que a a ciência da informação no Brasil não está operando em uma  linha de frente, nas fronteiras do conhecimento da área  ou privilegiando temas  surgidos a partir de 1990 com a popularização da web.  A ciência da informação pesquisa, ainda, em seu núcleo interno básico,  ignorando a revolução da comunicação acontecida na  área. Está como que  parada nos anos 1990 ignorando o progresso da tecnologia e  a revolução das tecnologias da informação a  partir de 1990. [exceção para algumas teses de doutorado na área].


Se  o futuro  passa por outro regime de informação, então,  estamos  longe deste futuro, pois preocupações emergentes não parecem ter chegado até o interesse de nossa pesquisa. As disciplinas e praticas de ensino são quase as mesmas nos últimos 50 anos. 

Estamos vendo a festa pelo lado de fora da janela e lembrando que o penúltimo trem já partiu e nós não compramos a passagem.

Aldo de A Barreto