domingo, maio 31, 2009

O fantasma da intertextualidade






"Mas o labirinto da informação digital intertextualizada é como uma onda de partículas que se animou no emaranhado em que cada ponto pode ter conexão com qualquer outro ponto. Não é possível desenrolá-lo com o fio de Ariadne, pois ele não tem interior ou exterior estabelecido. Pode ser finito ou infinito e em ambos os casos cada uma das partículas de sua formação pode ser ligada a qualquer outra e o seu próprio processo de conexão é um contínuo processo de correção destas conexões. É sempre ilimitado na sua estrutura, que fica sempre diferente da estrutura que era no momento anterior, permitindo a cada vez, ser percorrido por trilhas diferentes. É o labirinto das ondas digitais da informação em rede, que é formatado na intertextualidade de significados que se sobrepõe.”

Fonte: “Aldo Barreto “Estoques em labirinto, conhecimento em fluxo” postada na Lista abarreto-l”


A edição online da Pesquisa FAPESP, referenciada abaixo, publica matéria de física quântica sobre o emaranhado de partículas elementares que é semelhante ao pensamento acima colocado. Vale a conferir esta "similaridade" no texto completo. Abaixo só fragmentos:


"Físicos brasileiros acreditam ter formulado e demonstrado experimentalmente uma lei que descreve a dinâmica de um dos fenômenos mais estranhos e fascinantes do mundo quântico, o chamado emaranhamento ou entrelaçamento de átomos ou partículas elementares

Eles criaram uma equação geral que estima de forma simples e com precisão a perda de emaranhamento de um sistema formado por duas partículas sempre que uma delas sofre os efeitos deletérios do ambiente que pode levar até ao desaparecimento do emaranhamento.

Dotado, nas palavras de Albert Einstein, de uma “fantasmagórica ação à distância", o emaranhamento quântico é um fenômeno estranho ao mundo da física clássica, newtoniana, em que vivemos. Como que por telepatia ou mágica, ele faz com que um conjunto de partículas compartilhe certas características ainda que não haja qualquer ligação física entre elas.

O problema é que não é possível determinar as propriedades de cada uma das partículas entrelaçadas, apenas as do sistema global. Os pesquisadores perceberam que, ao produzir uma interação ocorria uma redução no grau de emaranhamento do sistema."

[fragmentos do texto "A fórmula do fantasma"]

Fonte: "A fórmula do fantasma" Pesquisa FAPESP - Edição Online - 15/04/2009. Texto completo em:

domingo, maio 24, 2009

Comunicação simbólica entre criaturas reais e artificiais



Um processo de inovação é diferente do que seja a configuração de uma nova tecnologia; a nova tecnologia corresponde a uma sucessão de eventos coesos e em conjunção com originais técnicas, processos, métodos, para uma ação de transformação de coisas e idéias. Já a inovação é a difusão e a aceitação desta tecnologia pelos habitantes de um determinado espaço. Se as tecnologias, por exemplo, forem as de informação a inovação poderia ser a aceita e estabelecida Internet que proporciona um fluxo mais livre de informação no espaço considerado.

A informação livre melhora o homem e sua realidade. Se a informação é a mediadora do conhecimento aprisionar ou não entender suas elaborações simbólicas é como aprisionar o potencial conhecimento. Se a introdução da novidade não me atinge por qualquer razão, que não seja meu livre arbítrio, ela não acontece em mim. Então, de que adianta esta luz se ela não brilha em mim já dizia Agostinho em suas Confissões. Só eu posso decidir e aceitar a novidade da informação.

Acredita-se que o processo de elaboração do pensamento para a geração de conhecimento ocorre no cérebro humano, mas a ciência não descobriu ainda os mecanismos biológicos que o qualificam. Pensamos que as apreensões simbólicas que acontecem na mente humana podem ser entendidas por analogia com o processamento da informação na computação eletrónica. O pensamento humano pode ser simulado em máquina através do processamento da informação.

Existe uma hipótese de operacionalização do sistema simbólico entre seres artificiais.* Esta não supõe substituir chips por neurónios ou confrontar circuitos integrados com a mente humana. Supõe que, de maneira fisicamente diferente, símbolos podem ser representados por padrões eletromagnéticos de um computador. Neste nível simbólico, o computador pode simular os símbolos armazenados e processados na mente. Os processos básicos são muito semelhantes. Um computador pode processar informação como, enviar e armazenar símbolos na memória combiná-los e reorganizá-los em novas estruturas e compará-los para qualificação, de acordo com regras programadas, utilizando para isso, um processador, uma memória de longo prazo e uma memória operacional de curto prazo. Tudo confrontável ao sistema humano de elaboração da informação e sua interiorização consciente.

Estas premissas conceituais são utilizadas, também, no processo de análise da significação do conteúdo de textos **, como consequência de procedimentos de interatuação de um receptor para elaboração do pensamento. A interpretação do significado do conteúdo de um texto pode ser pensada, também, como um fluxo mecânico de intenções com premeditação programada do receptor máquina ao interagir com a estrutura de informação.

Quando um receptor humano interage com um texto, significados são evocados, chamados de algum lugar, transferidos de um ponto para outro em um fluxo com uma intenção de entendimento deste texto; ou seja, determinados símbolos ou estruturas de símbolos que estão armazenadas na memória vêm à consciência. São transferidos da memória de longo prazo para a memória de curto prazo, para a apreensão simbólica do leitor que interpreta o texto.

Este mecanismo de reconhecimento seleciona um significado e toda a informação a ele associada; assim, um conceito que é evocado para a atenção do receptor pode estar associado a uma considerável quantidade de outros conceitos coligados, dependendo da qualidade da memória acessada e do contexto do texto.

A qualidade da memória e o contexto do texto implicam direta ou indiretamente na complexidade de associações que podem ser feitas. A evocação do conceito “casa”, por exemplo, pode trazer por recognição conceitos como: habitação, morada, edifícios, cidade, lar, família, pais, filhos, casamento, proteção, felicidade, etc.

Esta associação de conceitos em uma interatuação com a narrativa está geralmente conectada a elementos como:

- contexto do texto, enquanto estrutura de informação;
- contexto particular do sujeito, no tempo e no espaço de interação com o texto;
- desvio cognitivo ocasionado pela privacidade do receptor;
- estoque de informação do sujeito; qualidade da memória do leitor no contexto do texto;
- competência simbólica do receptor em relação ao código linguístico no qual o texto se insere;
- contexto físico e cultural do sujeito que interpreta o texto.

O significado dos enunciados está interligado em uma relação entre a informação e a memória do receptor em seus contextos de relembrança e esquecimento. Na interpretação da informação, o receptor fica liberado de toda intenção do emissor. Uma mesma informação pode ter diferentes significados para diferentes pessoas ou para a mesma pessoa em diferentes tempos e espaços.

Esta estrutura simbólica pode ter múltiplos sentidos. Estes eventos do fluxo de interligações que produzem o conhecimento podem gerar no sujeito alguma coisa nova ou podem modificar alguma coisa já existente ou, ainda, consolidar um conhecimento já adquirido. O consolidar do novo deve provocar um esquecer o antigo.

Pois, tanto "Salomão disse: "Não existe coisa nova na terra". Então Platão imaginou: "o conhecimento não é mais que uma relembrança"; daí Salomão apresentou sua sentença: "toda novidade é um esquecimento". ***

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* Angelo Loula e outros, “Comunicação Simbólica entre Criaturas Artificiais”
http://www.dca.fee.unicamp.br/projects/artcog/files/wtdia04-loula-4248.pdf

** SIMON, H. “Literary criticism: a cognitive approach”. Stanford Humanities Review, v.4, n.1, 1995. < http://www.stanford.edu/group/SHR/4-1/text/simon1.html >


***Bacon, Essay LVIII- “Of Vicissitude of Things”: Solomon saith, There is no new thing upon the earth. So that as Plato had an imagination, That all knowledge was but remembrance; so Solomon giveth his sentence, That all novelty is but oblivion

domingo, maio 17, 2009

Estoques em labirinto e fluxos de conhecimento





”Um labirinto é uma defesa,
muitas vezes uma defesa mágica,
para guardar um centro, um tesouro
um significado” (4)


Em meu trabalho nestes anos acredito que a informação, como partícula ou como uma onda, sintoniza o mundo, pois referencia o homem ao seu passado histórico, às suas cognições prévias e aos seus espaços de convivência colocando-o em um ponto do presente, com uma memória do passado, mas tendo uma perspectiva do futuro.


Independente de qualquer avaliação de qualidade, estoques de informação serão sempre acervos estáticos e sem condição de movimento: são recursos aterrados para uma ação de conhecimento, que ocorre quando, depois de disseminados por uma transferência há uma aceitação cognitiva. A sua condição de estática expectativa fica revelada em nosso falar atual: -Vou entrar em um arquivo; a idéia de viagem e de ingresso em direção no local da informação mostra a circunstância da serena espera dos estoques para possibilitar uma ação maior.

Nessa possibilidade estoques de informação podem criar conhecimento na consciência do individuo desde transferidos e elaborados em um saber acumulado de cognições
previas. Mas as figuras do estoque e do saber denotam serenas e estática espera.

Já o conhecimento é um fluxo de eventos que utilizando o saber acumulado entrelaça fragmentos para formar algo novo e que se agrega ao fim deste movido percurso. O conhecimento é viajante e desaparece após cumprir sua finalidade como uma onda que agitou partículas de informação em descanso.

Entrar em um arquivo expõe a condição de labirinto dos castelos da memória. O viajante em um arquivo nunca tem uma visão de cima para baixo, para como um ser avoante, ver as tramóias, os caminhos certos para a informação desejada. Há que se percorrer as alamedas para conhecer o labirinto.

O labirinto tem maquinações mágicas: ou é o visível, como um espaço que delimita o que está aparente e é conhecido normatizado e aterrado em uma realidade sensível, ou é, o recinto do invisível na potencialidade não regulada ou espacializada do trançado das coisas que defende e guarda. No labirinto o Minotauro denota e defende os conteúdos já estabelecidos e conduzidos pelo fio que o fluxo do conhecer permitiu encontrar e estruturar. No labirinto da consciência o saber é estoque o conhecimento é fluxo e o minotauro o esconderijo mágico dos significados. (3)

Se o labirinto fosse desenroscado teríamos entre as mãos um único fio: o fio de Ariadne que mostra ou evoca os eventos na formação dos significados. Pois significados nascem, se reafirmam ou morrem, quando substituídos por cognições modificadoras. O minotauro durante os eventos de um novo fluxo luta mas se aquieta para uma nova formatação das apropriações. E renasce como outra assimilação interiorizada pelo individuo.

Assim, o labirinto visível, indica escolhas alternativas, quando os caminhos convergem a um ponto focal e estável de mudança dentro do espaço aterrado e regulado do acervo percorrido. Se desenrolado pelo fio de Ariadne, o labirinto visível toma a forma de uma árvore, com diversos pontos de convergência formados pelos conteúdos que elaboramos e incorporamos nesta realidade teritorializada.

Mas no labirinto invisível é como uma onda de partículas que se animou no emaranhado mágico em que cada ponto pode ter conexão com qualquer outro ponto. Não é possível desenrolá-lo com o fio de Ariadne, pois não tem interior ou exterior estabelecido. Pode ser finito ou infinito e em ambos os casos cada uma das partículas de sua formação pode ser ligada a qualquer outra e o seu próprio processo de conexão é um contínuo processo de correção destas conexões.

É um Dédalo sempre ilimitado e sua estrutura fica sempre diferente da estrutura que era no momento anterior permitindo a cada vez ser percorrido segundo trilhas diferentes. É o labirinto das ondas digitais da informação em rede, do minotauro modificador e formatado na intertextualidade. Das estruturas interconectadas onde o conhecimento fluxo opera por associações de um pensamento divergente para formar significados em um mundo sem terrenos.

Se a Informação e o saber são estoques e o conhecimento é um fluxo seria conceitualmente inapropriado confundir uns com os outros, pois um é o viajante e outro a estrada, um é um fantasma evanescente da coisa que quer passar, o outro a coisa em si.


Então, Odes ao Minotauro

"Como será meu redentor? Me pergunto.
Será um touro ou um homem?
Será um touro com cara de homem?
Ou será como eu?
O sol da manhã rebrilhou na espada de bronze.
Já não havia qualquer vestígio de sangue.
Acreditas Ariadne? -disse Tseo.
O Minotauro apenas se defendeu" (1)

pois,

“ao morrer
o minotauro chora
chora como uma criança
por fim se enrosca
como um feto e se aquieta
no definitivo
da morte “ (2)


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1 – J.L.Borges, A Casa de Asterion, Aleph
2 - o Minotauro morre é do poeta Paulo Leminski
3) conceitos de labirinto visível e Invisível foram tirados de El Minotauro en su Laberinto
http://www.apostadigital.com/revistav3/hemeroteca/yidy1.pdf
de Yidy Páez Casadiegos, Revista Aposta, No. 3, Diciembre 2003
4) The Art of Pilgrimage: The Seeker's Guide to Making Travel Sacred, Por Phil CousineauPublicado por Red Wheel, 2000

domingo, maio 10, 2009

Aplicação da informação em organizações



As estruturas de informação são armazenadas no que, denominamos de estoques de informação: unidades que produzem e armazenam o conhecimento potencial produzido. Estas unidades elaboram os diferentes estoques de saber acumulado nas diferentes áreas do conhecimento.
Os estoques se juntam em agregados de informação que podem ser pessoas, inscrições de informação (documentos), conjunto de documentos em diferentes formatos, acervos meseológicos ou arquivos domiciliados.

O propósito da transferência da informação, é o de fazer acontecer, a partir das informações armazenadas, o fenômeno de percepção da informação pela consciência, percepção esta que direciona ao conhecimento do objeto percebido. A essência do fenômeno é esta intencionalidade. Um enunciado de informação deve ser intencional, arbitrário e contingente ao atingir o seu destino: criar conhecimento no indivíduo e em sua realidade.

Assim, o destino final, da informação é promover o desenvolvimento do indivíduo, de seu grupo e da sociedade. Desenvolvimento, entendido de uma forma ampla como sendo um acréscimo ao bem estar, um novo estágio de qualidade de convivência, alcançado através do conhecimento compartilhado.

A aplicação da informação tem foco na condição de desenvolvimento. É uma fase do processo de inovação e sua difusão. É um processo diferente do que o simples divulgar, por uma ação comunicativa, um conjunto de informações de interesse para uma determinada comunidade: esta seria uma outra ação que só pretende só fazer chegar a diferentes espaços sociais uma informação geral, sem uma preocupação de inovação, como por exemplo, alertas sobre saúde pública.
A apropriação da informação que inova revela um ritual de interação entre o sujeito e uma determinada estrutura de informação, gerando uma modificação em suas condições de entendimento e de saber acumulado. Esta apropriação representa um conjunto de atos voluntários, pelo qual o indivíduo reelabora o seu mundo modificando seu universo simbólico. É uma criação em convivência com suas cognições prévias; um inicio de algo que nunca principiou antes e que resultará sempre em uma modificação, como consequência do ato em si, ainda que, aconteça um retorno ao estado inicial de saber. O processo em si terá provocadou uma mudança,

A aplicação de uma informação em contextos diferenciados é uma ação de inteligência. Uma ação de operacionalização dinâmica na realidade do receptor. Neste processo participam institucionalmente as unidades de informação com suas duas funções básicas:

a) função de oferta: conhecer e fornecer estratégias para distribuição dos estoques de informação;

b) função de demanda: conhecer a comunidade de receptores para promover uma distribuição prioritária e só esta
.

A informação estocada se acumula com práticas técnicas bem determinadas e apoiadas em um processo de transformação orientado por uma racionalidade determinada por eventos definidos.

A produção ou geração do conhecimento ocorre como uma articulação, de passagem. A geração de conhecimento é sempre um fluxo dinâmico ao contrario dos estoques estáticos de informação. A interiorização é a finalização de um estado de aceitação subjetiva, que transcende a disponibilidade, o acesso e o uso da informação.

Porém, o indivíduo e sua realidade não são homogêneos. São fragmentados em suas condições sociais, políticas, econômicas e culturais. Os habitantes de uma realidade específica são multifacetados em suas aptidões para absorver a informação em aspectos como:

Grau de instrução, nível de renda, acesso e sensibilidade para com os códigos de representação simbólica, acesso e confiança aos canais de transferência da informação, contexto informacional específico, estoque pessoal de saber acumulado, competência na decodificação do código linguístico.

Harmonizar os estoques institucionais de informação disponíveis com uma distribuição adequada deve ser a intenção maior de todos aqueles que trabalham para aplicar a infonformação em diferentes contextos. Esta harmonização concilia,também, uma oferta de informação com interesses específicos das condições da demanda para um determinado grupo de receptores.

As características e estratégias da oferta e demanda podem ser analisadas a partir da descrição e explicação dos fluxos e estoques que formam a base da sua aplicabilidade:

OFERTA

Micro estratégia 1
*determinar as estruturas significantes com competência de gerar conhecimento em determinado grupo
Micro estratégia 2
*prever a geração de enunciados apropriados
Micro estratégia 3
*articular forma e conteúdo para a realizar a intencionalidade da aplicação específica
Micro estratégia 4
*promover estratégias de ação de comunicação com escolha de canais apropriados para operacionalizar a oferta e sua distribuição

Estratégia de oferta e fluxo

1) Trabalhar com o estoque conhecendo

* quantidade demandada
* qualidade da demanda
* condições explícitas da demanda
* condições implícitas da demanda
* formatação de estrutura e conteúdo da informação para esta demanda
e
2) Criar um fluxo desejável nos canais confiáveis e adequados

ESTRATÉGIA DE HARMONIZAÇÃO

Identificar mecanismos facilitadores para a aceitação da informação
Identificar resistências a aceitação da informação
Identificar prioridades e relevância nas necessidades dos receptores
Identificar limitações existentes na oferta e na demanda por informação
Identificar canais de comunicação adequados
Identificar formato da mensagem de informação adequada
Identificar estratégias de empacotamento tecnológico pertinentes
Identificar o código linguístico comum e suas particularidades

O formato da informação quando visto como um cristal é um átomo preciso em sua capacidade de refletir com invariância e regularidade as estruturas solidas da informação. Refletindo em muitas direções o cristal se transforma em chama que é a representação da liberdade individual no "consumir" da informação.

Cada pessoa, em sua individualidade, sensibilidade e percepção, lida com a chama interna da sua assimilação em danças próprias. Este é o rito de percurso da informação no tempo anterior ao conhecimento. A informação deixa a beleza do cristal para consumir-se na chama da individualidade de uma percepção única.

quarta-feira, maio 06, 2009

economia política da informação





A informação quando  mensageira potencial de uma intenção de conhecimento necessita de uma estrutura para fixar esta mediação.A estrutura de informação seria, então,  qualquer base de inscrição de conteúdos em um formato ou forma de organização onde os registros  adquirem  sentido em  um conjunto com  ordenação lógica.  Neste caso existe o pressuposto de que este conjunto admite que seus subconjuntos ou partes possam representar o  todo, em processos de reformação economizadora  para armazenagem.

Todas essas atividades conduzem a uma chamada organização de estoques de informação. Este seria um repositório potencial de conhecimento por acervação de estruturas de conteúdo.  Em sua forma completa ou não, estes estoques  são estáticos,  por si só não produzem  conhecimento que é uma condição em fluxo. Mas estas estruturas significantes armazenadas possuem potencial para produzir conhecimento,  que só se efetiva a partir de uma ação de transferência mutuamente consentida entre a fonte e o receptor.

A administração destes estoques tem adotado  preceitos de produtividade e  racionalidade para reunir o maior numero de itens em um menor espaço acervado. A crescente produção de informação precisa ser reunida e guardada de forma eficiente obedecendo a  critérios de produtividade da estocagem dentro de critérios de eficácia e custo adequados ao pensar gerencial.

Nesta acumulação de itens existe sempre uma  forma pela qual certa visão de mundo é imposta  ao todo  reunido no estoque,  através de uma ideologia formativa de uma ordem que o tempo acolhe como correta. Mas, também, há um viés de homogeneidade  agregativa que oculta a informação,  quando itens são  rejeitados por desordem temática e são excluídos na entrada.  Uma eliminação planificada  na decisão do que colocar no estoque; itens são aceitos e outros descartadao. O espaço não dá para tudo ali colocar. A seleção dos conteúdos  formadores do estoque ocorre em paralelo a um  ato de repressão documental. 

No processo de  preparação desta informação para armazenagem se utilizavam mundos particulares de linguagem e metalinguagens que são empregadas como instrumentos redutores do tamanho do conteúdo para atender as instruções de eficiência e produtividade.  Assim neste regime de informação ao receptor  se oculta informação por diferentes decisões: 1) de caráter econômico para eficiência dos arquivos ou pela 2) filtragem aliada ao caráter político das regras de entrada ou quando a intenção é censurar documentos,  para que estes não venham  a ter acesso público.

Neste sentido quanto mais protocolos de procedimentos estiverem entrelaçados no processo de estocagem  maior seria a possibilidade de se ocultar a informação. Seria, assim, coerente supor que, em um ambiente intenso em tecnologia de informação permitisse  maior poder de se ocultar a informação pela decisão dos administradores destes estoques. 

Mas no caso da informação online e em rede os protocolos técnicos operam para munir o receptor e o gerador com mais liberdade de expressão na troca de suas narrativas que se dá em uma linguagem natural e sem os escondimentos na passagem  e na reformatação de conteúdos. Os administradores de estoques perdem em poder institucional  pela liberdade da rede em convivência. 

Há que se esperar que em uma atitude de convivência informacional  prevaleça na criação e no fluxo de conteúdos em uma  um contexto de arquivos digitais. A liberdade deveria ser uma determinação fundamental nesta estrutura  da circulação da informação.

 Sem a esperança desta liberdade a informação retorna a idade média, prisioneira dos muros, abismais dos monastérios medievais que guardavam o saber como coisa sagrada:   "Não há progressos, não há revoluções de períodos na história do saber, mas no máximo, continua e sublime recapitulação” acustódia do saber, a custódia digo não a busca, porque é próprio do saber coisa divina, ser completo e definido desde o inicio, na perfeição do verbo que exprime a si mesmo"  *

* Umberto Eco em seu livro "O Nome da Rosa" 

Aldo de A Barreto
revisto em 2013

domingo, maio 03, 2009

"O fim da Universidade como nos a conhecemos" *


Este é um artigo de opinião, escrito por um não jornalista. para o New York Times e tem provocado bastante discussão no meio acadêmico nos EUA. Entre outras coisas o artigo diz claramente: "muitos cursos de pós-graduação nos EUA produzem um produto para o qual não haverá mercado" Os programas de pós-graduação em geral são, simplesmente, uma forma usar uma força de trabalho boa e sem custo nos laboratórios e no monitoramento em sala de aula. O autor recomenda em seu provocador artigo 6 passos para melhorar o estado de penúria da pós-graduação:

1. Reestruturar todos os o currículos de disciplinas, começando com os programas de pós e prosseguindo rapidamente aos programas de graduação. A divisão do trabalho dos docentes entre diferentes departamentos está obsoleta. O currículo quando reestruturado deve ser possuir uma condição interdisciplinar e em rede como a web. Não podemos mais lidar com disciplinas fechadas em si mesmas e operando com seu objetivo e racionalidade interna sem conexão com o programa todo.

2. Acabar com os departamentos, mesmo para a graduação, e criar programas que sejam problemas-focalizados. Estes novos programas devem estar em constante desenvolvimento sendo revistos a cada sete anos.

3. Aumentar a colaboração entre instituições. Todas as instituições de ensino não necessitam fazer as mesmas coisas e a tecnologia hoje torna possível que as Faculdades trabalhem em parceria para compartilhar estudantes, reflexões, cursos e orientação.

4. Transformar o formato atual das teses e dissertações. Não existe mais condição de disseminação ou de leitura para livros ou artigos modelados no formato acadêmico medieval, com mais notas de rodapé do que o texto. Os estudantes pós-graduandos devem ser incentivados produzirem suas teses em formatos alternativos, utilizando recursos da tecnologia atual de informação e comunicação, no seu trabalho final.

5. Expandir a escala de opções profissionais para estudantes pós-graduandos. A maioria desses estudantes dificilmente conseguirá trabalho no campo em que estão sendo graduados. É necessário alargar suas opções de emprego, de maneira acadêmica e prática, para considerar o trabalho em áreas paralelas a sua formação. Este processo de redirecionamento do conhecimento e habilidades de procurar novas alternativas servira, ainda, para desenvolver nas universidades a semente da readaptação em um mundo em constantemente em mudança.

6. Impor a aposentadoria imperativa, após determinado tempo. Terminar com a titularidade do conhecimento. Professores titulares não aumentam a liberdade acadêmica e podem ser bastante avessos a mudanças por sua posição fortalecida. Todos os professores inclusive os titulares devem ter contratos de sete anos. A cada período de 7 anos todos os docentes devem ser reavaliados, inclusive os titulares; avaliados em sua produção intelectual, sua pesquisas realizadas, a sua relação com alunos e com a academia.

O autor termina seu artigo dizendo: "Por muitos anos eu disse aos meus alunos - Não façam nunca o que eu já tenha feito ou dito a vocês. Ao contrário peguem o que possa ter-lhes ensinado e usem isso de uma maneira que eu nunca poderia ter imaginado em usar e depois voltem e venham me contar " Este é o desprendimento que se espera do novo ensino e dos novos docentes?


Vale a pena dar uma visualizada no artigo, até para notar como o jornal NYT está modificando sua estrutura interna, no formato online,, onde já predomina uma estrutura típica de um Blog. Este artigo, por exemplo, permite interação com os leitores e o envio de comentários que são publicados em anexo ao texto. Para este texto, até a data desta nota, cerca de 500 comentários haviam sido postados e podem ser lidos.


* Fonte:
Taylor, Mark C.O "O fim da Universidade como nos a conhecemos"
["End the University as We Know It"] publicado no The New York Times de 27 de abril de 2009
http://www.nytimes.com/2009/04/27/opinion/27taylor.html

Mark C. Taylor, é o diretor do departamento de religião na Columbia University é o autor de “Field Notes From Elsewhere: Reflections on Dying and Living.”