segunda-feira, novembro 11, 2013

A pesquisa em ciência da informação está estacionada no passado?



A Ciência da Informação se preocupa com os princípios e práticas da criação, organização e distribuição da informação. Assim como, com o estudo dos fluxos da informação desde sua criação até a sua utilização e tem a sua disseminação ao receptor em uma variedade de formatos, através de uma variedade de canais. É dependente das tecnologias intensas de comunicação e informação. Por esta razão para uma área  que esta permanentemente se refazendo  não é fácil determinar seus temas para uma pesquisa de ponta. 

Temas como  a organização e controle da informação e seus instrumentos, a comunicação cientifica, estoques acervados e a mediação para o conhecimento tem participado como núcleo forte desde Paul Otlet até Tim Barnes-lee; mas para uma área altamente envolvida com a tecnologia alguns temas  se mostram emergentes. Este parece ser um problema para a construção de um arcabouço teórico desta área, pois como a mudança nas práticas anda sempre rápida e na frente,  a teoria (e a pesquisa) parecem vir a reboque,  correndo atrás para explicá-la e situa-la em um fragmentado corpo de difícil consenso.

Se, intuitivamente incluíssemos alguns itens para mostrar os temas de pesquisas na fronteira do conhecimento da área, teríamos em minha opinião:
  
1- Conhecer, registrar, organizar e distribuir conteúdos digitais armazenado em estoques eletrônicos no ciberespaço;

2- Conhecer e mediar o processo de produção, distribuição e consumo da informação em novas mídias considerando, ainda, a difusão multimídia;  

3- Facilitar a ação de integração social de conteúdos, através das redes eletrônicas, fortalecendo a participação em comunidades eletrônicas;

4- Promover a fluência digital como uma forma de instrução para operar novos instrumentos de acesso e interatuação com narrativas de informação digital;

5 - Estimular o desenvolvimento e a competência para fundar e operar repositórios digitais de livre acesso a informação;

6- Promover ambientes informacionais abertos nos quais o usuário  possa  modificar conteúdos já estocados  de informação dentro de um contexto consensual;

7- Prever e promover a formação e a integridade de ambientes colaborativos estabelecendo regras para seus integrantes;

8 - Pesquisar a emergência de uma condição visual de interatuar com conteúdos e, assim,  lidar com novas condições de escrita e leitura;

9 - Pesquisar a recuperação interativa de conteúdos e imagens de formato digital;

10 -  Estudar a organização da informação em ciberblocos como novos  espaços semânticos de conteúdos na web.

Contudo parece que não estamos indo neste caminho na área de ciência da informação. Em recente artigo de Gustavo LiberatoreI e Víctor Herrero-Solana publicado em publicado na Base Scielo <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-37862013000300005&script=sci_arttext>, denominado  "Caracterización temática de la investigación en Ciencia de la Información en Brasil" tem como objetivo analisar os principais temas de interesse no domínio da investigação científica na área da ciência da informação no Brasil durante a primeira década do século XXI. Para isso analisou os temas correspondente ao conteúdo da produção científica publicada em quatro grandes revistas nacionais da disciplina: Revista Ciência da Informação , DataGramaZero , Perspectivas em Ciência da Informação e Transinformação .

 A metodologia usada na pesquisa indicada foi à análise de coocorrência de palavras e a sua representação e interpretação através da análise em rede social com as áreas propostas pela Ancib em seus grupos. Os indicadores finais foram compostos por 2.498 entradas de palavras pertencentes aos 965 itens processados. Temos então  três quadros que indicariam a qualidade dos temas da pesquisa da área no Brasil:

Frequência das palavras nas pesquisas: (click para ampliar)


 O núcleo central da coocorrência: (click para ampliar)


 E a integração com os grupos de estudo da associação cientifica da área na época da pesquisa: (click para ampliar)




 Podemos apreciar nos quadros da pesquisa realizada por LiberatoreI e Herrero-Solana, que a a ciência da informação no Brasil não está operando em uma  linha de frente, nas fronteiras do conhecimento da área  ou privilegiando temas  surgidos a partir de 1990 com a popularização da web.  A ciência da informação pesquisa, ainda, em seu núcleo interno básico,  ignorando a revolução da comunicação acontecida na  área. Está como que  parada nos anos 1990 ignorando o progresso da tecnologia e  a revolução das tecnologias da informação a  partir de 1990. [exceção para algumas teses de doutorado na área].


Se  o futuro  passa por outro regime de informação, então,  estamos  longe deste futuro, pois preocupações emergentes não parecem ter chegado até o interesse de nossa pesquisa. As disciplinas e praticas de ensino são quase as mesmas nos últimos 50 anos. 

Estamos vendo a festa pelo lado de fora da janela e lembrando que o penúltimo trem já partiu e nós não compramos a passagem.

Aldo de A Barreto

quarta-feira, outubro 02, 2013

Os privilegiados da informação



 "de que adianta esta luz Senhor, se ela não brilha em mim"  **



O Brasil aparece na 57ª posição no ranking global de capital humano divulgado nesta terça, 1º de outubro 13 pelo Fórum Econômico Mundial . O ranking de “Human Capital Report”, avalia as condições para o desenvolvimento  profissional em 122 países e suas consequências para o desenvolvimento da sustentável. O índice do capital humano de um país - que consiste nas habilidades e capacidades de sua “população ativa” para promover a produção e desenvolvimento deste país;  leia mais sobre isso na notícia de O Globo. (http://goo.gl/hbstUH)

Contudo, indo ao site do IBGE  (http://goo.gl/C0UvJs ) vemos que nas  tabulações mais recentes*  verifica-se uma dura realidade sobre a educação da Força de Trabalho do Brasil. O estoque de indivíduos com  11 anos de  estudo ou mais  ( 1º e 2º grau)  corresponde a  40 milhões pessoas para uma força de trabalho de cerca de 100 milhões, o restante da força de trabalho , ou seja, algo como 60 milhões de indivíduos não teria condições de processar informação em conhecimento, considerando unicamente o fator educação formal.

Só uma pequena parcela da força de trabalho  tem condições de elaborar e se apropriar da informação para transformar em conhecimento e em seu desenvolvimento  e de sua comunidade de convivência. A sociedade brasileira teria hoje de 200 milhões de habitantes, porém   pelo menos o total da força de trabalho merecia estar em uma sociedade da informação. O que temos hoje se aproxima mais de um "Country Club" da informação do que uma sociedade da informação e conhecimento.

O alto dispêndio de recursos (escassos) que se tem com profissionais e com a operacionalização para disseminação da informação se direciona a um "clubinho" de privilegiados da informação.




*Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1992/2007
** Santo Agostinho, Confissões.

sábado, junho 01, 2013

Mudança estrutural na escrita e leitura



            "A palavra e a imagem são duas correlações que se buscam eternamente”
               Goethe



É importante ter uma ideia geral das funções da linguagem e de sua relação com os atos de transferência da informação. Um ato de comunicação se efetiva quando um emissor ou remetente envia uma mensagem a um destinatário ou receptor. Para realizar-se de forma eficaz, a mensagem necessita de um contexto de referência, que precisa ser acessível ao gerador e receptor.  Este contexto deve ser verbal ou passível de ser verbalizado. É necessário ainda um código, total ou parcialmente comum ao emissor e ao receptor, e, finalmente, um contato, isto é, um canal físico e uma conexão psicológica, entre os dois,  que os capacitem a entrar e a permanecer em contato.

Acredito que ao relacionar-se com um texto de informação o receptor realiza reflexões e interações que lhe permitem evocar conceitos mentais relacionados explicitamente com a informação recebida do gerador. É uma interação de um pensamento que é seduzido por condições quase ocultas, silenciosas, de um meditar próprio de sua mais sensível privacidade. Ao apropriar uma informação textual o leitor  considera nesta “interatuação”:

a) o contexto do texto, enquanto estrutura de informação;
b) a sua colocação em relação ao texto, no tempo e no espaço da interação;
c) o estoque de informação acumulado na sua consciência;
d) suas possibilidades de tradução simbólica do código ou subcódigo linguístico na qual o texto está inserido.

Existe, contudo, um crescente entendimento de que o conteúdo de  informação  útil ao receptor é acessível, cada vez mais, em diferentes meios, classes, formas de escrita. Isto significa que, posso realizar com técnicas previsíveis, um agregado homogêneo de escritos utilizando um único código linguístico comum na recepção em um mesmo acervamento. Mas, quando em uma configuração hipertextual, uma organização pelo ajuntamento homogêneo de conteúdos é quase impossível;  o hipertexto pode até verticalizar uma narrativa em enunciados similares, mais sua tendência e liberdade estão nas trajetórias estendidas horizontalmente. São novos desafios que as tecnologias intensas de informação e comunicação estão colocando aos profissionais. Há que reestudar conceitos, redefinir relações, pensamentos, emoções.



Fonte: Masuda, Y. ,  “A Sociedade de Informação”,  Embratel, Editora Rio, 1980


A escrita aberta ou a escrita fechada têm  laços com a base física de inscrição da informação. Uma estrutura de conteúdos é formada pelas inscrições ou conjunto de expressões, que a escrita fixou em uma determinada base de suporte; uma agregação que compõe um todo simbolicamente significante. Já uma escritura aberta é como um sistema, denunciada pelo seu "grammé", que é o traço de uma escrita com que tem um estado instável da linguagem, onde não se pode, ainda, colocar frases devido a uma condição imponderável. Coincide com um o estado emotivo do pensamento; uma sensação que temos de “não conseguir ainda achar as palavras certas” para finalizar na escrita  do que queremos dizer. *

A escritura sistêmica é de alguma forma, externa à linguagem, uma explosão semiótica, pois agrega outros sentidos ao entendimento e não se prende unicamente a visão linear, como de um folhetim, onde a palavra é de enunciação continua e finita. Vai se contando signo a signo com um destino estrutural determinado.

Cada vez mais se lê diretamente na tela do computador pessoal. Pixels de fósforo, que ligam e desligam, se assemelham a vagalumes evanescentes que lembram os mecanismos do próprio pensar. O interesse na leitura digital são os seus diferentes  rumos da sedução de uma viagem por escritos entrelaçados um novo paradigma de escrita e  leitura.

Daí que, escrever para a web exige cada vez mais poder de síntese e praticidade além de uma apresentação com elementos de visualização amigável que elimine o estresse cognitivo.  Ao enfeitiçar palavras, um profissional da escrita visual ganha leitores.  O problema dos conteúdos que usam a superfluidade com as palavras é que eles perpetuam uma cultura estudantil de escrita. O velho vício de organização das ideias em um  formato: introdução, desenvolvimento e conclusão, como se escrever com ordem fosse à única expressão do pensamento; uma maneira de redigir como em um exercício padrão.

O ápice da mensagem digital não está mais no seu desenrolar. Pelo contrário, a conclusão tem que vir primeiro. Procurar ser eficiente e aperfeiçoar o tempo da escrita com o da leitura possível. As narrativas de amanhã serão cada vez mais em meios eletrônico e formato digital. Tenho forte intuição, que de que não temos uma adequada apreciação deste problema. Nossos leitores de hoje não são os mesmos de vinte anos atrás.

Aldo de A Barreto

*Derrida, Jacques. Gramatologia. São Paulo, Perspectiva, 1973.

sábado, março 30, 2013

Um abismo geracional separa professores e alunos afetando as relações de admiração e respeito que estimulam o desejo de aprender



Um abismo geracional separa  professores e alunos afetando as relações de admiração e respeito que estimulam o desejo de aprender

             trechos de um artigo de Rosiska Darcy De Oliveira*

Uma mudança de era deu lugar a um abismo geracional que separa professores e alunos, minando as relações de admiração e respeito que, no passado, estimulavam o desejo de aprender. Os professores estão hoje a cavaleiro entre dois tempos; um passado em que conteúdos eram transmitidos de uma forma que hoje chamaríamos tradicional; um presente em que os alunos, digitais nativos habitam, fascinados, o espaço virtual como vida real e são habilíssimos em tecnologias que os professores mal dominam.

A virtualidade é o meio ambiente de uma juventude portadora dessas próteses cerebrais que são os celulares, prolongamentos de seus corpos, onde trazem armazenada — Google dispensando o trabalho da memória — toda a informação do mundo. Fotografam tudo que se passa como que deixando provas tangíveis do que é vivido em tempo real, marcando o instante, sem apelo à abstração da memória, seus caprichos e brumas.

Como tudo é registrado sem esforço, é o próprio esforço que se torna um comportamento raro e desvalorizado, o que representa um perigoso efeito colateral. Entre alunos e professores há distância e estranhamento. Por vezes, agressividade. A pletora de informações que cada um acessa quando tira o celular do bolso não implica que os jovens tenham a mínima ideia do que fazer com elas ou, pior, que saibam a diferença entre informação e conhecimento.

A aquisição de conhecimento depende do desenvolvimento de aptidões mentais e do domínio dos códigos culturais que permitem navegar com alguma coerência em um oceano de informações desgarradas. As informações disponíveis na internet são um tesouro literalmente incomensurável. Problemática é a exígua capacidade de processá-las e lhes dar algum sentido.

Assim como a palavra ganha seu sentido no texto e o texto ganha sentido em um contexto, a informação pede para se inserir em um patrimônio cultural que caberia à escola transmitir. A contextualização é condição da função cognitiva ao mesmo título que a consciência de ter aprendido, tão cara ao grande Jean Piaget. É a transmissão do patrimônio cultural e de valores que dão à juventude o sentido de pertencimento à aventura humana e estabelecem os vínculos de continuidade entre as gerações que se sucedem.

O desafio da educação é a formação de indivíduos aptos a pensar pela própria cabeça, capazes de transformar informações em conhecimentos, abertos à inovação e experimentação, afeitos à argumentação e escolha. O que Edgar Morin chama “uma cabeça bem feita”.  A vida em tempos de internet exige da escola uma metadisciplina, o aprender a aprender. Quem serão os professores dessa escola aberta ao desconhecido, sob forma de pesquisa, e ao inesperado, sob forma de criação?

Não há receita pronta de escola e sim ingredientes a combinar: a aquisição de conteúdos específicos com o aprendizado de competências transversais que permitam aos jovens dar sentido a si mesmos e a um mundo em que terão vida longa e as certezas curta vida."

Rosiska Darcy de Oliveira é escritora


*Partes do artigo de Rosiska Darcy De Oliveira, Publicado: 30/03/13 no jornal O Globo de 3-/03/2013. Leia mais sobre esse assunto emhttp://oglobo.globo.com/opiniao/uma-escola-sem-receita-7972677#ixzz2P1o0zPFG