sábado, junho 01, 2013

Mudança estrutural na escrita e leitura



            "A palavra e a imagem são duas correlações que se buscam eternamente”
               Goethe



É importante ter uma ideia geral das funções da linguagem e de sua relação com os atos de transferência da informação. Um ato de comunicação se efetiva quando um emissor ou remetente envia uma mensagem a um destinatário ou receptor. Para realizar-se de forma eficaz, a mensagem necessita de um contexto de referência, que precisa ser acessível ao gerador e receptor.  Este contexto deve ser verbal ou passível de ser verbalizado. É necessário ainda um código, total ou parcialmente comum ao emissor e ao receptor, e, finalmente, um contato, isto é, um canal físico e uma conexão psicológica, entre os dois,  que os capacitem a entrar e a permanecer em contato.

Acredito que ao relacionar-se com um texto de informação o receptor realiza reflexões e interações que lhe permitem evocar conceitos mentais relacionados explicitamente com a informação recebida do gerador. É uma interação de um pensamento que é seduzido por condições quase ocultas, silenciosas, de um meditar próprio de sua mais sensível privacidade. Ao apropriar uma informação textual o leitor  considera nesta “interatuação”:

a) o contexto do texto, enquanto estrutura de informação;
b) a sua colocação em relação ao texto, no tempo e no espaço da interação;
c) o estoque de informação acumulado na sua consciência;
d) suas possibilidades de tradução simbólica do código ou subcódigo linguístico na qual o texto está inserido.

Existe, contudo, um crescente entendimento de que o conteúdo de  informação  útil ao receptor é acessível, cada vez mais, em diferentes meios, classes, formas de escrita. Isto significa que, posso realizar com técnicas previsíveis, um agregado homogêneo de escritos utilizando um único código linguístico comum na recepção em um mesmo acervamento. Mas, quando em uma configuração hipertextual, uma organização pelo ajuntamento homogêneo de conteúdos é quase impossível;  o hipertexto pode até verticalizar uma narrativa em enunciados similares, mais sua tendência e liberdade estão nas trajetórias estendidas horizontalmente. São novos desafios que as tecnologias intensas de informação e comunicação estão colocando aos profissionais. Há que reestudar conceitos, redefinir relações, pensamentos, emoções.



Fonte: Masuda, Y. ,  “A Sociedade de Informação”,  Embratel, Editora Rio, 1980


A escrita aberta ou a escrita fechada têm  laços com a base física de inscrição da informação. Uma estrutura de conteúdos é formada pelas inscrições ou conjunto de expressões, que a escrita fixou em uma determinada base de suporte; uma agregação que compõe um todo simbolicamente significante. Já uma escritura aberta é como um sistema, denunciada pelo seu "grammé", que é o traço de uma escrita com que tem um estado instável da linguagem, onde não se pode, ainda, colocar frases devido a uma condição imponderável. Coincide com um o estado emotivo do pensamento; uma sensação que temos de “não conseguir ainda achar as palavras certas” para finalizar na escrita  do que queremos dizer. *

A escritura sistêmica é de alguma forma, externa à linguagem, uma explosão semiótica, pois agrega outros sentidos ao entendimento e não se prende unicamente a visão linear, como de um folhetim, onde a palavra é de enunciação continua e finita. Vai se contando signo a signo com um destino estrutural determinado.

Cada vez mais se lê diretamente na tela do computador pessoal. Pixels de fósforo, que ligam e desligam, se assemelham a vagalumes evanescentes que lembram os mecanismos do próprio pensar. O interesse na leitura digital são os seus diferentes  rumos da sedução de uma viagem por escritos entrelaçados um novo paradigma de escrita e  leitura.

Daí que, escrever para a web exige cada vez mais poder de síntese e praticidade além de uma apresentação com elementos de visualização amigável que elimine o estresse cognitivo.  Ao enfeitiçar palavras, um profissional da escrita visual ganha leitores.  O problema dos conteúdos que usam a superfluidade com as palavras é que eles perpetuam uma cultura estudantil de escrita. O velho vício de organização das ideias em um  formato: introdução, desenvolvimento e conclusão, como se escrever com ordem fosse à única expressão do pensamento; uma maneira de redigir como em um exercício padrão.

O ápice da mensagem digital não está mais no seu desenrolar. Pelo contrário, a conclusão tem que vir primeiro. Procurar ser eficiente e aperfeiçoar o tempo da escrita com o da leitura possível. As narrativas de amanhã serão cada vez mais em meios eletrônico e formato digital. Tenho forte intuição, que de que não temos uma adequada apreciação deste problema. Nossos leitores de hoje não são os mesmos de vinte anos atrás.

Aldo de A Barreto

*Derrida, Jacques. Gramatologia. São Paulo, Perspectiva, 1973.

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