"A palavra e a imagem são duas correlações que
se buscam eternamente”
Goethe
É importante ter uma ideia geral das funções da linguagem e
de sua relação com os atos de transferência da informação. Um ato de
comunicação se efetiva quando um emissor ou remetente envia uma mensagem a um
destinatário ou receptor. Para realizar-se de forma eficaz, a mensagem
necessita de um contexto de referência, que precisa ser acessível ao gerador e
receptor. Este contexto deve ser verbal
ou passível de ser verbalizado. É necessário ainda um código, total ou
parcialmente comum ao emissor e ao receptor, e, finalmente, um contato, isto é,
um canal físico e uma conexão psicológica, entre os dois, que os capacitem a entrar e a permanecer em
contato.
Acredito que ao relacionar-se com um texto de informação o
receptor realiza reflexões e interações que lhe permitem evocar conceitos
mentais relacionados explicitamente com a informação recebida do gerador. É uma
interação de um pensamento que é seduzido por condições quase ocultas,
silenciosas, de um meditar próprio de sua mais sensível privacidade. Ao
apropriar uma informação textual o leitor
considera nesta “interatuação”:
a) o contexto do texto, enquanto estrutura de informação;
b) a sua colocação em relação ao texto, no tempo e no espaço
da interação;
c) o estoque de informação acumulado na sua consciência;
d) suas possibilidades de tradução simbólica do código ou
subcódigo linguístico na qual o texto está inserido.
Existe, contudo, um crescente entendimento de que o conteúdo
de informação útil ao receptor é acessível, cada vez mais,
em diferentes meios, classes, formas de escrita. Isto significa que, posso
realizar com técnicas previsíveis, um agregado homogêneo de escritos utilizando
um único código linguístico comum na recepção em um mesmo acervamento. Mas,
quando em uma configuração hipertextual, uma organização pelo ajuntamento
homogêneo de conteúdos é quase impossível;
o hipertexto pode até verticalizar uma narrativa em enunciados
similares, mais sua tendência e liberdade estão nas trajetórias estendidas
horizontalmente. São novos desafios que as tecnologias intensas de informação e
comunicação estão colocando aos profissionais. Há que reestudar conceitos,
redefinir relações, pensamentos, emoções.
Fonte: Masuda, Y. , “A Sociedade de Informação”, Embratel, Editora Rio, 1980
A escrita aberta ou a escrita fechada têm laços com a base física de inscrição da
informação. Uma estrutura de conteúdos é formada pelas inscrições ou conjunto
de expressões, que a escrita fixou em uma determinada base de suporte; uma
agregação que compõe um todo simbolicamente significante. Já uma escritura
aberta é como um sistema, denunciada pelo seu "grammé", que é o traço
de uma escrita com que tem um estado instável da linguagem, onde não se pode,
ainda, colocar frases devido a uma condição imponderável. Coincide com um o
estado emotivo do pensamento; uma sensação que temos de “não conseguir ainda
achar as palavras certas” para finalizar na escrita do que queremos dizer. *
A escritura sistêmica é de alguma forma, externa à
linguagem, uma explosão semiótica, pois agrega outros sentidos ao entendimento
e não se prende unicamente a visão linear, como de um folhetim, onde a palavra
é de enunciação continua e finita. Vai se contando signo a signo com um destino
estrutural determinado.
Cada vez mais se lê diretamente na tela do computador
pessoal. Pixels de fósforo, que ligam e desligam, se assemelham a vagalumes
evanescentes que lembram os mecanismos do próprio pensar. O interesse na
leitura digital são os seus diferentes
rumos da sedução de uma viagem por escritos entrelaçados um novo
paradigma de escrita e leitura.
Daí que, escrever para a web exige cada vez mais poder de
síntese e praticidade além de uma apresentação com elementos de visualização
amigável que elimine o estresse cognitivo.
Ao enfeitiçar palavras, um profissional da escrita visual ganha
leitores. O problema dos conteúdos que
usam a superfluidade com as palavras é que eles perpetuam uma cultura
estudantil de escrita. O velho vício de organização das ideias em um formato: introdução, desenvolvimento e
conclusão, como se escrever com ordem fosse à única expressão do pensamento; uma
maneira de redigir como em um exercício padrão.
O ápice da mensagem digital não está mais no seu desenrolar.
Pelo contrário, a conclusão tem que vir primeiro. Procurar ser eficiente e
aperfeiçoar o tempo da escrita com o da leitura possível. As narrativas de
amanhã serão cada vez mais em meios eletrônico e formato digital. Tenho forte
intuição, que de que não temos uma adequada apreciação deste problema. Nossos leitores
de hoje não são os mesmos de vinte anos atrás.
Aldo de A Barreto
*Derrida, Jacques. Gramatologia.
São Paulo, Perspectiva, 1973.
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