sábado, julho 18, 2009

Interfaces


Douglas Engelbart é um pesquisador conhecido por ter inventado o mouse e por ser um pioneiro na interação entre humanos e computadores, cuja equipe desenvolveu o hipertexto, computadores em rede e as precursoras interfaces gráficas.

Em 1945, enquanto esperava a dispensa do serviço militar em um hospital leu um artigo de uma revista que o fascinou: era "As we may think" de Vannevar Bush que discutia o futuro emprego das máquinas como complemento do intelecto humano. Este artigo, aliado à sua experiência como técnico em radares, moldou a forma como Engelbart veio a imaginar os computadores e a forma como estes deveriam mostrar a informação.

Em 1963 abriu o laboratório que chamou de Augmentation Research o primeiro ambiente integrado para processamento de idéias e tecnologias voltado para "aumentar" a capacidade intelectual. De 1968 a 1970 apresentou uma série de inovações como sistemas hipertextuais de associação dinâmica e a colaboração social em rede. Em 1970 Engelbart revelou a interface que permitiria ao homem entrar no ciberespaço através da tela do seu computador: o mouse

A aumentação de uma coisa pode ser facial ou difícil. Lentes aumentam a faculdade de ver, o automóvel de locomover, o martelo aumenta o poder da mão. Aumentar a capacidade de intermediar de uma interface é aumentar o poder de estar mais perto ou de operar melhor a coisa que ela permeia. A escrita permeia a linguagem, a web expõe a Internet e a "Aumentação" revela as possibilidades para incrementar a capacidade criadora e expressar emoções e sentimentos.

A realidade objetiva é a interface que permite o viver da condição humana que conduz o homem no existir das suas ações na terra. A ação é a qualidade da interatuação que o integra na esfera do que existe ou pode existir permitindo iniciar novos procedimentos potencialmente eternos.

Um vigor de potência mostra a Aumentação como interface para a realidade virtual onde existimos com a liberdade incorpórea para realizar a condição humana da vivência mediada por scrips; instruções criadas para incrementar as sensações de plasticidades gráfico-visuais com uma expectativa maquinal de suscitar um desejo de prolongamento ou renovação da conexão.

As duas realidades onde desenvolvemos o desenrolar de nossa aventura se aproximam e se afastam e quando seus atributos se mesclam temos realidades paralelas e é assim com a Realidade Aumentada.

A Realidade Aumentada lida com a integração ao mundo real de elementos virtuais criados pela máquina, usualmente uma sobreposição cênica de objetos tridimensionais, gerados por computador, com um ambiente real criado através de algum dispositivo tecnológico. É uma Realidade Misturada combinando o real com o virtual

Você compra um livro, que parece convencional, mas ao folheá-lo na frente do monitor, no campo de visão de uma webcam, as páginas estáticas ganham vida na tela do computador. Delas brotam ilustrações em 3D, como um animal que se movimenta e urra ou outro personagem que transcende o espaço linear para viver o cenário do seu script. São exemplos de como a Realidade Aumentada para trazer informações virtuais para o mundo real em uma relação geográfica de continuidade entre dois mundos em tempo real.


A mais importante característica da interface aumentada é a mixagem do foco de influência mútua. O sistema de interatuação não está mais em uma localização precisa e abrange todo o ambiente e a interface não mais é mais uma barganha entre "eu e o monitor". A interface se amplia no espaço com objetos percebíveis em volta. Utilizar uma informação não é só mais um ato consciente e intencional torna-se uma aventura com dados e personagens que saem visivelmente de dentro da narrativa.

A Realidade Aumentada possibilita uma tal ajuda aos sentidos que subjuga o imaginário por "default"; como que apaga memórias passadas e estéticas futuras tal a força do presente na interface visual.

Aldo de A Barreto

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*SCRIP aqui é o conjunto de condições e de uma lógica a ser seguida para realizar e manter a coisa programada que ajudará o operante na concentração do conteúdo a ser vivenciado.

*Veja o que é e como é a nova interface da Realidade Aumentada

http://tinyurl.com/mz5345

http://www.brainstorm9.com.br/2008/12/19/realidade-aumentada-augmented-reality/

domingo, julho 12, 2009

O discurso do poder na perspectiva estética


Três são os grandes discursos de poder com influência e força social: o discurso político, o discurso dos meios de comunicação e o discurso da ciência e da tecnologia. Uma é a ação, mais importante que os discursos, e que dominará esta atualidade reposicionando poderes: a conexão.

O discurso político se referencia ao poder, quando pela intenção de construção ou modificação dos fatos sociais e econômicos em uma determinada ambiência. Ao ser ação o discurso político intervém em toda nossa relação com a realidade física que habitamos.

O discurso dos meios de comunicação lida com a formação ou deformação da opinião pública querendo formatar um maior público comum através da sua visão dos fatos e idéias. O discurso dos meios obedece a fatores e interferências externas imponderáveis e perdeu, em algum lugar do passado, a possibilidade de intermediar os anseios da comunidade junto ao poder político. Definiu,assim, a sua preferência por um atuar voltado para seus fins mostrando ao público sua versão como um espetáculo; optou por transformar-se em um palavreado oco que quer moldar opiniões em assuntos cada vez mais miúdos.

Como os outros, o discurso da ciência e tecnologia e inovação é só uma peça de informação. É um discurso de poder por conta da esperança que coloca no melhor destino do homem. A sua preleção sobre a sociedade da informação para todos é uma intrincada condição técnica de distribuição do saber limitada pelo conhecimento que possa gerar; é, portanto, utópica quando quer o conhecimento partilhado por todos. A sociedade do conhecimento nada tem a ver com a sociedade da informação, pois uma vai por um protocolo técnico e a outra se guia por uma grande esperança.

Os estoques de informação permitem a infraestrutura dos discursos da ciência da técnica e este quantum é organizado e gerenciado por especialistas em faina diária e rotineira. Estes possuem a chave dos acervos para o conhecimento e conhecem as rotas de sua distribuição, mas não possuem qualquer poder.

Mas, em um mundo cada vez mais totalizado, a velocidade real das trocas online determina o vigor de uma ação de conexão que reposiciona poderes. Estima-se que dois bilhões de pessoas e coisas como, Celulares, Bancos, Universidades, Aeroportos, Governos estejam interligados via web. Estamos vivendo, na maior parte do tempo, conectados em um ciberespaço que nada tem a ver com as condições da realidade fundeada em que habitamos dentro duma perspectiva demarcada por cada uma das nossas formas de receber sensações.

O ciberespaço é uma nova realidade, com uma nova forma de perspectiva, denotando uma arte de representar coisas em um plano onde os estados de espírito tem outro caráter estético. Não é semelhante a perspectiva audiovisual que já conhecemos é uma inovação de ponto de vista que não se assemelha a nada que conhecemos. É uma perspectiva livre de qualquer referência anterior carregada de profunda vivência pessoal podendo suscitar em outros um desejo de prolongamento ou renovação continua.

O linguagear dos conectados que acontece nesta realidade não é padronizado e opera em comunidades, que trocam enunciados para uma possível finalização com afetividade organizacional mais que um poder central.

Esta enunciação em conexão é um dialogo social livre e em réplica, um discurso interior que se exterioriza no espaço cibernético, mas que não existe fora de um contexto de troca entre seres humanos. Esta nova perspectiva mudará todos os discursos e formas de poder.

Aldo de A Barreto


*Como seres humanos, vivemos imersos em um fluir incessante de ações que Humberto Maturana chama de "linguagear". A linguagem é usualmente entendida como a transmissão de informação simbólica. Mas, em seu trabalho, Maturana deixa o conceito de informação completamente de fora; diz que os símbolos são secundários ao ato de linguagear que é essa coordenação de condutas. Então, o linguagear é um modo de viver caracteristicamente humano, no qual somos imersos ...... Em Vaz,M.N. - O Linguagear é o modo de vida nos trabalhos humanos, Revista Ciência e Cultura da SBPC, número 60, especial 1, julho de 2008

domingo, julho 05, 2009

Anfíbios contemporâneos




Os modos de observar e viver a realidade tem variado ao longo do tempo. William Ford Gibson* que cunhou a palavra ciberespaço escreveu Neuromancer o seu primeiro livro em que introduzia novos conceitos para a época, como inteligências artificiais avançadas e um ciberespaço como sendo um lugar de comunicação que descarta a necessidade do homem físico para constituir uma troca de informação quando em relacionamento. Um espaço em que a vivência não necessita uma presença corpórea.

Podemos diferenciar esta ambiguidade como estar na terra ou no mundo. A terra é a parte sólida do globo, espaço e território da vida temporal profana e física com fundamento real seguro, sólido e incontestável. E é na força desta posição que a terra passa a ocupar um lugar no universo das realizações físicas; um lugar que converte o espaço em possibilidades de fixar, espacializar e localizar. Ao longo da história, a terra tem proporcionado aos homens os recursos para criar, viver, morrer.

O mundo não é o da realidade física como um principio regulador quando da razão aterrada na relação com outros seres. É o continuum das relações sustentadas pela técnica e sua tecnologia. O eixo, em que giram o princípio e o fim de todas as coisas sem território: "para o peito doido do homem nenhuma pátria é possível!" **

É difícil entender e observar o momento exato em que estamos inseridos, por mais incrível que ele possa ser. Existe uma proximidade alienante que nos impede de ver uma contemporaneidade. Estar e ser contemporâneo é uma relação intrincada entre nós e o tempo. Representa o momento exato que a alma fica como que suspensa entre dois estado. Todos aqueles que estão muito coincidentes com a sua época não são contemporâneos, pois não podem fitá-la nesta proximidade. Estar na contemporaneidade não é um entendimento é um estar ali com intensidade, mas sem contudo, poder perceber o exato momento em que a flor vai fenecer.

Talvez por isso não possamos ter o afastamento necessário para entender que existimos hoje em duas realidades: uma realidade objetiva onde vivemos corporeamente uma presença física e construímos todos os atos e traços de nossa aventura individual rumo ao (in)finito, em direção a um fim. Uma outra realidade virtual denota a extrapolação do concreto; de rompimento com as formas tradicionais do acontecer. O virtual sendo oposto do ao atual, carrega uma potência de ser. Nessa realidade, por suas características, vivemos sem uma presença física, não importando distancias ou superfícies. Nela podemos ser o avatar de tudo aquilo que sonhamos ser na atualidade contemporânea.

É importante saber, então, que habitamos duas realidades na mesma época. A anfibiedade que vivemos é a capacidade adquirida de habitar e interatuar em contextos e condições diferenciadas. É a anfibiedade do animal que pode viver na terra ou na água. Aterrado no viver físico ou libertado de amarras no mundo virtual. Gibson nos diz "um dos nossos erros é a distinção que fazemos entre digital e analógico e entre virtual e real. No futuro esta diferença será literalmente impossível. A distinção sobre o ciberespaço e o que não é ciberespaço será inadmissível."

Nossa anfibiedade faz nosso viver estar em dois espaços: o da realidade da existência e o da realidade potencial onde existimos metaforicamente linkados a outros e são eles que nos definem. São eles que executam a transferência do que somos para um significado decidido pelos que nos designam no mundo virtual.

No mundo virtual somos, então, definidos por quem nos olha e conosco convive ali. Eu existo virtualmente no mundos dos meus outros sem distancia espaço ou tempo definido. Minha vivência é a da conexão ou conexões e meu destino são os meus links. Virtualmente existo na translação da metáfora, na transferência das minhas narrativas para um âmbito simbólico que não é fixo, físico ou designado; ele se fundamenta num movimento sem corpo em que todas as partículas têm, só por cada instante, a mesma velocidade e se mantém em uma direção inconstante. Uma relação de separação entre dois instantes, dois lugares ou dois estados do ser.



Notas

1 - Foram usados no texto os conceitos de Ma e Utsori de Roland Barthes; 2 - William Gibson foi autor do famoso livro "Neuromancer (1984), e cunhou o termo Ciberespaço3-Usamos tema de Rafael Cippolini do blog Cippodrmo 4 - Alguns conceitos se Carneiro Leão, A Técnica e o Mundo no Pensamento da Terra -5 - ** Hoelderlin em 1795