sexta-feira, outubro 09, 2009

A escrita, a interface gráfica e a linguagem





A informação tem variada tipologia. Uma narrativa é um conjunto de expressões inscritas em uma base na multiplicidade de configurações de uma  escrita. Constitui um todo unificado passível de ser distribuído por um canal de transferência.

O discurso de significação é uma elaboração do autor, mas quando distribuída a narrativa associa em sua amplitude: a leitura, o receptor e a sua interpretação ou reconstrução. O significado vem de escritas múltiplas e de várias culturas que entram no diálogo; entram em contestação e se acumulam no leitor. No leitor está o ambiente exato em que se inscrevem todas as referências das quais uma escrita é feita; a unidade do texto não está em sua origem, mas no seu destino e este destino não pode ser particularmente descrito: o leitor é um homem sem história, sem biografia, sem psicologia (Barthes).

A estrutura de informação pode ser sequencial e centrada em uma narração continua devido ao seu formato. Um texto pode, também, ser acêntrico e sem destino certo, composto por varias estruturas que se narram em paralelo. A escrita deu ao homem valores visuais e lhe causou uma consciência fragmentada. Na convivência dos espaços auditivos, a comunicação de enunciados, intercedida por muitas vozes, era limitada no espaço pela distância entre emissor e receptor.

Foi à tipografia que terminou com a cultura auditiva tribal. Permitiu a cultura escrita multiplicar possibilidades de  imiscuir se no tempo e no espaço. O homem do pensamento linear e sequencial classificou e organizou a informação e o fez em modo hierárquico, em uma série contínua de graus escalas, famílias temáticas. Usou uma arranjo por categorias indicando suas subordinações em relação a uma cadeia de parentesco dentro de um universo de termos particularizado.

A passagem da cultura de comunicação tribal ao modo da escrita e da tipografia foi uma transformação profunda para o indivíduo e para a sociedade. Assim, vem sendo a passagem da cultura da escrita linear para  redes digitais com, uma desconstrução e desfamiliaziração temática e o adiamento do significado que é espalhado pelas trilhas dos textos paralelos.

No mundo digital da escrita sem centro marcador configura-se uma nova adaptação na relação do receptor com o conhecimento. O texto tramado como na urdidura dos fios entrelaçados traz uma vinculação e um emaranhado de cadeias imprevisíveis sem qualquer qualificação hierárquica.

Conhecer é como se apropriar de enunciados alinhavados; é como construir uma bricolagem, onde cada junção de pedaços necessite uma permissão para passar  dada pela possibilidade de assimilar . Uma bricolagem que é individualizada para cada andante neste passear por mosaicos.

As escrituras digitalizadas, tramadas e distribuídas em rede recolocam as condições de apropriação da informação pela sua inscrição. A escrita digital em seu contexto de existência admite liberdade ao lidar com o texto livre das amarras da composição aterrada ao código. As palavras não são mais apriosionadas a uma página.

O base da escrita será sempre comum e permanece como pano de fundo, como um elemento sistemático e compulsório. Mas os enunciados são contingentes e acontecem em uma escrita que é uma mediação gráfica desta linguagem comum, mas diferenciada em cada contexto de comunicação. É preciso então estabelecer a diferença entre a escrita estruturadora e a escrita volátil e mutável no dialogo dos enunciados digitais.

A escrita digital é uma tecnologia que se espelha, mas não se subordina aos códigos . Para a informação em fluxo não acontece só uma transmissão de informação, existe um contínuo colóquio interativo de enunciados entre geradores e receptores. Os envolvidos possuem uma afinidade em seus intentos e preocupação com a qualidade do objeto em construção. Os jogos de informação nos colégios virtuais interagem com estruturas abertas, pois existem não pela presença anatômica, mas com uma visibilidade potencial do estar ali.

Uma escrita em formato digital e  de textos intercambiáveis é livre para o encadeamento dos devaneios do receptor no percurso pelas tramas das narrativas. Desta forma é livre da ideação de quem gerou o conteúdo  e dos controladores de formatos e padrões estabelecidos.  O receptor pode percorrer os caminhos de sua interpretação individual livre das amarras dos controladores de uma escrita formalizada e única. São individualidades divergentes que no ato da leitura se separam para sempre.

Aldo de Albuquerque Barreto
revisto em 2013

Um comentário:

auddi tt disse...

eu sou totalmente contra essa escrita digital.