terça-feira, setembro 22, 2009

O pensamento é uma onda elétrica pequenininha


Por muitos anos tem se esperado que a informação organize o mundo, pois apesar de "o pensamento nada mais ser que uma onda elétrica pequenininha se espalhando pelo cérebro em milissegundos" [1] ele referencia o homem ao seu passado histórico e ao seu desejo do futuro. Assim para instituir o saber no mundo a justa distribuição da informação dever estar organizada.

Muitas e antigas tem sido as idealizações de organizar a informação para estabelecer uma provável transferência de conhecimento. O livre fluxo de informação e sua distribuição equitativa tem sido um sonho de diversos homens em diversas épocas. A rede de saber universal foi uma preocupação desde as velhas sociedades científicas do mundo.

A luta por uma distribuição do conhecimento produzido pela humanidade vem desde o século XVII passando por cérebros e instituições. A construção da Enciclopédia de Diderot e D‟Alembert, Paul Otlet e o Mundialismo que inspirou o quase atual Decuverse de Theodor Nelson, Vannevar Bush e seus pesquisadores na segunda guerra mundial, a aldeia global de Marshal McLuhan, as idéias de Roland Barthes, de Jaques Derrida, de Claude Lèvi-Strauss, a Arqueologia do Saber de Michel Foucoult .

O ideal compartilhado seria o de se construir uma sociedade do conhecimento não só uma sociedade da informação. A sociedade da informação necessitava de aparelhamento e controle formatador em época que as estruturas eram fixas e o texto tradicional ditava um modelo único de estrutura. Nestes tempos idos se aplicava uma organização da informação onde o potencial humano era a possibilidade concreta em uma época de documentos e usuários escassos ou privilegiados pela densidade.

Já em 1945 ao findar da segunda guerra houve a uma explosão do saber acumulado no período e enorme abundância de informação que servia para inabilitá-la como um bem econômico escasso; a abundância relativiza o valor. Passou, então, a ser escassa a informação organizada com uma (in)tensão de criar saber. [2]

Em 1945 em seu artigo “As we may think” Vanenevar Bush teve a possibilidade de constatar na prática que a informação não poderia, quando em fartura ser organizada por pelo homem e sua técnicas iniciadoras. Bush tinha um grande medo de que se tornasse um exemplo de organização o que aconteceu com os textos de Gregor Mendel, que deram origem a toda a moderna genética e que foram publicadas em 1866, mas só foram redescobertas cerca de 100 anos depois em 1900. Certamente os escritos de Mendel não estavam em uma organização privilegiada da informação pelos cérebros da época e ficaram perdidos por uma geração atravancando os todos benefícios que hoje trazem para a sociedade o conhecimento genético.

Desde 1945 com o artigo de Bush e após, na reunião na Inglaterra em 1948 a Royal Society Scientific Information Conference ficou claro que 4 fatores impediam o a distribuição da informação e do saber no mundo moderno: a) formação inadequada de recursos humanos para lidar com o volume de informação a partir de 1945; b) o fraco instrumental de organização e recuperação da informação existente; c) o arcabouço teórico existente na área, que não explicava suas práticas: o homem não pensava hierarquicamente ou em formato fixo, mas sim por associação de idéias livres.

Enfim, nada trabalha melhor que o cérebro humano se bem orientado e dentro de suas possibilidades para organizar a informação em estoques pequenininhos. Mas em determinado momento quem resolve é a máquina. Esta contratação vem, também, desde Gottfried Leibniz em 1604 que dizia que o pensamento pode se manifestar no interior de uma máquina ou a mediação da escrita algorítmica de Boole para as pesquisas em máquinas e os “Marcadores de Luz” do plano de Francis Bacon de 1662. [3] [4]

Na abundância da informação o que pode lhe dar um valor de adequada escassez é a máquina ao lidar com os bilhões de postagem nos blogs do mundo ou as imagens depositadas no Flickr e no You Tube. Não é uma organização perfeita da informação como faria o homem. Não é, ainda, uma organização que deva estar modelada pela ideologia dos formatos determinados. E uma única opção no mar do sem sentido de um turbilhão de textos desformatados e abandonados.

Esta é uma nova realidade , um novo regime de informação, E “pobre la gente que nunca comprende un milagro de éstos y que sólo entiende, Que no nacen rosas más que en los rosales, y que no hay más trigo que el de los trigales!, Que requiere líneas y color y forma, y que sólo admite uma realidad por norma.Que cuando uno dice: “Voy con la dulzura”,de inmediato buscan a la criatura.” [5]


Aldo de A Barreto
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Notas:

[1] "O pensamento nada mais é que uma onda elétrica pequenininha se espalhando pelo cérebro numa escala de tempo de milissegundos" Miguel Nicolelis, neurocientista, em entrevista a Folha de São Paulo de 10 de junho [JC email da SBPC 3781]
[2] “(in) tensão” - a separação da palavra quer denotar seu sentido de direção (in) e a tensão de apropriação de um conhecimento quando o receptor assimila o pensamento de um emissor traduzido em uma informação colocada em um código comum a ambos
[3]Hobbes, T. (1997). De la Nature Humaine, traduzido do inglês para o francês pelo barão d´Hilbach, comentário de E. Roux. Saint-Amand-Montrond: Actes Sud.
[4] A Historia da Sociedade da Informação de Armand Matterlat, Loyola

[5] El dulce milagro de Juana de Ibarbourou poeta uruguaia.

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