domingo, março 21, 2010

A relevância irrelevante: na velocidade do acesso com sensibilidade imediata


printed paper away, from deviant mind


Calvin Mooers e Mortimer Taube foram dos primeiros a falar sobre relevância entre 1950-55, como pesquisadores pioneiros dos sistemas de armazenamento e Recuperação da Informação; mas a exploração ampla do conceito de relevância apareceu em 1958, durante a "International Conference for Scientific Information" em Washington, novembro de 1958 com a presença de Fairthorne, Vickery, Bar-Hillel e outros.

A relevância em estoques delimitados de informação impressa foi também estudada, a partir de 1957, por Cyril Cleverdon que no Cranfield Institute of Technology em Bedford perto de Londres começou a usar o computador para analisar a eficácia das linguagens de indexação para recuperação com precisão de documentos em acervos estáticos de documentos papel e tinta. Cleverdon definiu matematicamente a relevância e a precisão: 1- a relevância como a habilidade de apresentar itens relevantes durante a recuperação dos documentos em um estoque definido; 2 - a precisão era a habilidade do sistema de armazenamento em barrar itens não relevantes em uma recuperação. As medidas eram calculadas como percentuais do número total de documentos no estoque considerado.

Cyril Cleverdon apresentava seus resultados à comunidade em reuniões chamadas “Cranfield Conferences”, sete ao todo, de 1960 até 1970. As conferências reuniram as pessoas importantes da área das tecnicas de indexação de todo o mundo que desejavam  organizar a  informação papel usando o melhor esquema de indexação.O estudo da medida de relevância para a gestão da informação em acervos definidos e pequenos tinha princípios determinantes e subjetivos:

1 - um julgamento de valor era  realizado pelo usuário avaliador sobre a relevância dos textos existentes em uma base de dados de documentos tematicamente semelhantes;

2- os receptores julgadores precisavam conhecer os textos contidos na base, pois tanto a recuperação  quanto a relevância eram medidas relacionadas ao total dos documentos naquele estoque específico.

As condições de disponibilidade e acesso  da informação mudaram radicalmente na realidade da Internet. Se uma pessoa pesquisar na Web usando um "browser tipo Google" sobre, por exemplo, o tema "organização da informação" obterá cerca de  milhões de referências sobre o assunto. Isto impede qualquer decisão onde se supõe haja um conhecimento do conjunto de documentos.

A relevância online é decidida pelo usuário no momento de sua solicitação e em tempo real,  sem o conhecimento do conjunto dos  documentos de todo o  estoque para uma  decisão item a item. O julgamento é imediato e no processo de busca. A relevância passou a ter uma pluralidade de nuances para atender o desejo específico de informação de cada receptor.  A relevância de um conteúdo entre de milhões de itens semelhantes é ponderada pelo viés que cada  do texto terá para o receptor. Uma descontinuidade cambiante, uma relevância móvel dentro da mesma matiz temática.

Está relevância descontínua é a única possível para conteúdos digitais de infinitos entrelaçados por rotas  distintas, traçadas por cada usuário,  onde os documentos em uma lincagem tem o significado em construção; e  onde o texto de ontem não será o mesmo de hoje e irá depender do caminho percorrido.As medidas perderam sua eficácia quando sua análise se mudou do sistema de armazenamento local para a autoridade do usuário online em rede.  As medidas de recuperação, relevância, e precisão teriam nova conceituação para conteúdos digitais em rede.

Na visão do sistema de armazenamento e recuperação localizado "off line" e com documentos impressos,  as velhas medidas de avaliação reinavam. Mas este sistema virou uma rede de informação e conhecimento. O receptor e os próprios documentos estão do lado de fora, na ambiência desta rede de armazenamento e recuperação. Cada vez mais se entende que o lugar do conhecimento não esta no estoque, mas sim na consciência do receptor fora de qualquer esquema de gestão ou controle de um sistema de elementos interligados de armazenamento e recuperação.

Enfim, é válido lembrar a história dos conceitos passados e sua articulação com a técnica da época  para entender o presente e saber que o passado ficou no passado e não pode ser reconstruído no presente por maior que seja a simpatia dos antigos atores e suas práticas. O que passou passou para sempre.

Aldo de A. Barreto

(revisto em 30/06/2013)


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