Em recente estudo exploratório mas realizado com dados experimentais em um grupo controlado de observação, intuímos que:
a) A mediação da informação para geração do conhecimento se relaciona qualitativamente com o formato em que a informação está inscrita; A percepção da informação difere de acordo com cada formato; A assimilação da informação que pode gerar conhecimento se processa de maneira diferente quando o receptor interage com um documento em formato linear ou quando o documento está em formato digital, tipo hipertexto com links para outros documentos.
b) A percepção da informação digital gera conhecimento diferenciado, mais elaborado e de melhor qualidade considerando a abrangência, a riqueza de conteúdo, a atualização e os detalhes temáticos. A percepção digital acontece via um fluxo de pensamento divergente, onde os meandros da consciência se orientam para uma associação conceitual aberta mas que é referenciada à aventura individual e simbólica de cada receptor. Suas vivências, suas projeções futuras e suas condições de individualidade.
Objetivos bem definidos norteiam todo o pensamento subsequente na estruturação de uma área. Orientam sua pesquisa, o seu ensino, delimitam suas fronteiras, às inter-relações com outras disciplinas e o seu núcleo temático.
Neste momento, devido a uma interação de tecnologia intensa a informação, suas ações e praticas, redefine continuamente a prioridade de seus objetivos. A base teórica corre atrás das práticas mutantes tentando explicar os novos posicionamentos.
Desde 1990 as tecnologias da informação estão definitivamente inseridas no contexto dos atos de informação. Quando falamos da interiorização da informação nos limitamos a trocas simbólicas entre seres humanos e em conteúdos depositados em estoques institucionalizados.
A recepção positiva da informação sempre foi a finalização de um processo de aceitação que transcende o seu uso ou manuseio, um ato de apropriação é uma percepção que atravessa visceralmente o sujeito na afetividade de uma conexão bem realizada. Este é o destino final do fenômeno da informação ao criar condições modificadoras e inovadoras no indivíduo e em sua vivência. Fluxos apropriados pela consciência em um processo que se realiza na sua subjetividade.
A celebração da solidão individual está ampliada pelas facilidades de acesso às memórias eletrônicas e o receptor não aceita mais percorrer os caminhos mapeados por universos temáticos particularizados por uma ideologia linear do texto. Há que se articular um comportamento novo e remarcar os limites da abrangência da área de informação considerando a nova visão de produção, distribuição e consumo de narrativas digitais.
O propósito da ciência da informação é o de conhecer e fazer acontecer o delicado fenómeno de percepção da informação pela consciência do indivíduo; percepção que, se adequada, conduz ao conhecimento do significado nela contido.
A essência do fenómeno é esta sua intencionalidade. Uma mensagem de informação deve ser direcionada, arbitrária e contingente para atingir o seu destino; e produz sempre tensão quando da interatuação nos dois espaços: o do gerador e o do receptor da informação para onde o conhecimento se destina.Nos momentos de passagem a informação tem sua particularidade mais bela, pois transcende ali a solidão fundamental da consciência do receptor, quando um pensamento criador se faz conhecimento pela mediação apropriada. Esta é a qualidade e a característica contida na mediação da informação, que por isto é sempre rara e surpreendente no seu conseguimento.
Neste processo de transferência os eventos se relacionam às pessoas que se comunicam entre si. Todo ato de conhecimento está associado ao conteúdo significante de uma informação. O processo em si representa uma cerimônia com ritos próprios; uma passagem simbolicamente mediada que acontece na consciência do indivíduo que interioriza saber pela percepção dos conteúdos dos enunciados.Tanto o emissor quanto o receptor da informação, vivem em uma ambiência privada e o entendimento da coisa é trabalhado em uma cerimônia de criação e interiorização. Só a informação explicita, inscrita e formatada transita por uma mediação pela escrita.
Uma escrita é formada pelas inscrições que uma linguagem fixou em um determinado e suporte; uma agregação que compõe um todo significante. A escrita pode estar em um formato linear ou digital. A escritura digital é externa à linguagem convencional, pois agrega outros sentidos ao entendimento e não se prende a condição de uma escrita de enunciação continua. Na escrita intertextual uma palavra pode levar a mil imagens.Convivemos, cada vez mais intensamente, com esta escrita a aberta. As possibilidades da apreensão digital vêm da sedução da viagem por espaços de narrativas linkadas; a escritura digital traz um novo modelo para a percepção pela escrita e o para imaginário pela leitura.
As bases de inscrição das narrativas foram virtualizadas. Estamos convivendo com um novo padrão de percepção da dos conteúdos e presenciando momentos fascinantes na transformação dos padrões de transmissão e entendimento das narrativas.
O deciframento, pode ainda ir de signo a signo, mais o signo se espacializou e sua agregação exige cada vez mais um adiamento da significação, pois o entendimento se dispersou por muitos espaços. Os canais físicos de transferência digital são diferentes em estrutura e velocidade e a interatuação necessária para manter em contato emissor e receptor opera na dimensão das sensações espaciais do imaginário. No espaço cibernético o significante explodiu em novas paisagens de uma imaginação conectada.
O imaginário no meio eletrônico adia o significado dos enunciados até que se percorram todos os caminhos das conexões. Palavras e sentidos têm na condição digital um caminho de significantes libertados da relação biunívoca. Uma possibilidade do imaginário de ir além de uma única representação para um signo atribuído. A concepção nunca é imediata e total em um arranjo digital, pois esta diferida pela soma do que se quer agregar ao perceber.
Como serão as pessoas de amanhã em um mundo em que a leitura e a escrita se torna se torna cada vez mais digital? Como será a mediação e a cognição que atribui conhecimento em uma ambiente de conteúdos que se comunicam potencialmente em uma realidade de convivência sem presença. Em uma realidade onde existimos metaforicamente linkados a outros e a transferência de significados incorpora um hardware, um software e um letramento específico como condição de nossa percepção.
Um comentário:
A reflexão deste texto é muito interessante. Acredito que o contexto comtemporäneo nos impulsiona a repensar a mediação da informação no meio digital. Penso que o desenvolvimento cognitivo em meio digital se apresenta ainda mais dependente de mediação, por se constituir uma construção proviniente do que o indivíduo faz fora do computador e de quando está on-line. Ou seja, depende de sua educação básica (alfabetização e letramento) e se o sujeito vem utilizando o acesso às tecnologias, a exemplo do computador com internet, para potencializar seu desenvolvimento pessoal e sua qualidade de vida.
Penso, principalmente, que a questão sobre cognição já deveria constar nas agendas que discutem inclusão digital a partir da elaboração de políticas específicas.
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