A informação é muitas vezes referida como mercadoria* de consumo ou bem econômico para facilitar sua inserção no mundo dos negócios, das tecnologias e, também, no mundo acadêmico e da consultoria. Parece, talvez devido à nova economia de textos da web, que o enfoque informação - produto voltou ao foco da reflexão em salas e congressos. As notas abaixo já foram pensadas por nos e nossos alunos 1990 quando, ainda lecionava no Programa de Pós-Graduação uma disciplina de Economia da informação, já que a nossa tese de doutorado tratou deste assunto.
Contudo, em termos econômicos, a informação seria um bem torto, por não possuir os atributos necessários para esta caracterização, isto é: não tem uma clara unidade de medida, não é divisível, é abundante e não escassa, não é homogênea, não se extingue com o consumo, e, sobretudo quando consumida não se transforma em propriedade do consumidor; sua posse pelo gerador mesmo defendida por marcos legais é de difícil manutenção.
Um quilo de batatas tem uma clara e divisível unidade de medida, é razoavelmente homogêneo a outro quilo de batatas, é escasso, e o meu quilo de batatas não vai para a panela de mais ninguém. Acaba quando eu como as minhas batatinhas. Quem fala em mercadoria* informação, sem as devidas ressalvas, pode estar falando do seu formato, da sua base física e não de seu conteúdo simbólico.
O mercado de informação, se existe, é atormentado pela relação: preço - valor. A mesma "mercadoria" * informação possui um valor diferente para diferentes consumidores. Configurar um preço de equilíbrio é impossível, pois tal preço pode estar muito abaixo ou muito acima do que diferentes usuários, com diferentes necessidades, lhe atribuem e estão dispostos a pagar por ela no mercado. Fácil colocar preço no objeto livro, no periódico, no jornal, no disco, mas então, estamos falando de dispositivos e não do conteúdo.
Por razões semelhantes à informação, também, não é um insumo ou um fator de produção; por definição (na teoria da produção) todo fator de produção perde suas características, desaparece, no processo de produção para fazer surgir o novo produto. E isto não acontece com a informação. Por exemplo, as meadas de algodão desaparecem quando da fabricação do casaco. Existe informação agregada em todo o processo de produção do casaco, mas ela permanece a mesma após a finalização da produção.
Seguindo esta linha de reflexão indicamos que o conceito de valor é relativo e específico para cada indivíduo, de acordo com a sua escala de preferências, a sua hierarquia de desejos. Um indivíduo valoriza o conhecimento - A - em relação ao conhecimento - B - dentro desta escala de preferências, de utilidade e prioridade para ele. Neste caso, o valor do conhecimento A, para cada indivíduo, vai depender:
I. De sua preferência pelo conhecimento A em detrimento ao conhecimento B;
II. Da sua competência cognitiva em decodificar A e B e assim tornar possível uma comparação e uma apropriação;
III. Do conhecimento A e do conhecimento B estarem em um código que seja simbolicamente significante para o receptor.
Assim, se no julgamento do receptor, o valor do conhecimento A é maior que o valor do conhecimento B o receptor efetuou uma decisão de utilidade entre os dois. Portanto, o valor entre duas opções é relativo, obedece a critérios de demanda e só se efetiva na potencialidade da absorção do conhecimento pelos receptores
Todo ato de conhecimento está associado a um conteúdo simbólico de um dispositivo de informação e representa uma cerimônia com ritos próprios e uma passagem simbolicamente mediada para o receptor da informação. Na ambiência de informação há que se acrescentar a tipologia de valor simbólico que é a capacidade do receptor em traduzir o conteúdo da mensagem para o seu entendimento. O valor de troca ou de mercado no mundo simbólico dos conteúdos do texto são medidas imponderáveis,
Na realidade prótese do ciberespaço há que considerar, ainda, que artefatos informacionais em rede digital, são objetos de informação que estão, ou em se fazendo ou que, apesar de acabados, podem ter seu conteúdo modificado continuamente, devido a um sucessivo diálogo com o gerador ou uma conversação com um coletivo de participantes. Aqui só pode existir um valor circunstancial de uso da informação, pois a sua utilidade para o receptor está pendente de um acabamento.
A medida de relevância e de valor está presa em uma relação de expectativas circunstanciais do usuário que espera contar com a coisa pronta. Valor e relevância estão presos em um determinado momento de completeza na expectativa de um de fechamento esperado. O Painel da ONU sobre o tempo e a Rede de pesquisa do DNA são exemplos, pois elaboram documentos que estão em se fazendo.
A propriedade intelectual de uma informação que se encontra em se fazendo e em um suporte digital, que é socialmente construída por diversos geradores dependerá de se estabelecer um código de convivência e trocas ainda não pensado e restará determinar na finalização de quem é a propriedade da coisa toda.
Aldo de A Barreto
Contudo, em termos econômicos, a informação seria um bem torto, por não possuir os atributos necessários para esta caracterização, isto é: não tem uma clara unidade de medida, não é divisível, é abundante e não escassa, não é homogênea, não se extingue com o consumo, e, sobretudo quando consumida não se transforma em propriedade do consumidor; sua posse pelo gerador mesmo defendida por marcos legais é de difícil manutenção.
Um quilo de batatas tem uma clara e divisível unidade de medida, é razoavelmente homogêneo a outro quilo de batatas, é escasso, e o meu quilo de batatas não vai para a panela de mais ninguém. Acaba quando eu como as minhas batatinhas. Quem fala em mercadoria* informação, sem as devidas ressalvas, pode estar falando do seu formato, da sua base física e não de seu conteúdo simbólico.
O mercado de informação, se existe, é atormentado pela relação: preço - valor. A mesma "mercadoria" * informação possui um valor diferente para diferentes consumidores. Configurar um preço de equilíbrio é impossível, pois tal preço pode estar muito abaixo ou muito acima do que diferentes usuários, com diferentes necessidades, lhe atribuem e estão dispostos a pagar por ela no mercado. Fácil colocar preço no objeto livro, no periódico, no jornal, no disco, mas então, estamos falando de dispositivos e não do conteúdo.
Por razões semelhantes à informação, também, não é um insumo ou um fator de produção; por definição (na teoria da produção) todo fator de produção perde suas características, desaparece, no processo de produção para fazer surgir o novo produto. E isto não acontece com a informação. Por exemplo, as meadas de algodão desaparecem quando da fabricação do casaco. Existe informação agregada em todo o processo de produção do casaco, mas ela permanece a mesma após a finalização da produção.
Seguindo esta linha de reflexão indicamos que o conceito de valor é relativo e específico para cada indivíduo, de acordo com a sua escala de preferências, a sua hierarquia de desejos. Um indivíduo valoriza o conhecimento - A - em relação ao conhecimento - B - dentro desta escala de preferências, de utilidade e prioridade para ele. Neste caso, o valor do conhecimento A, para cada indivíduo, vai depender:
I. De sua preferência pelo conhecimento A em detrimento ao conhecimento B;
II. Da sua competência cognitiva em decodificar A e B e assim tornar possível uma comparação e uma apropriação;
III. Do conhecimento A e do conhecimento B estarem em um código que seja simbolicamente significante para o receptor.
Assim, se no julgamento do receptor, o valor do conhecimento A é maior que o valor do conhecimento B o receptor efetuou uma decisão de utilidade entre os dois. Portanto, o valor entre duas opções é relativo, obedece a critérios de demanda e só se efetiva na potencialidade da absorção do conhecimento pelos receptores
Todo ato de conhecimento está associado a um conteúdo simbólico de um dispositivo de informação e representa uma cerimônia com ritos próprios e uma passagem simbolicamente mediada para o receptor da informação. Na ambiência de informação há que se acrescentar a tipologia de valor simbólico que é a capacidade do receptor em traduzir o conteúdo da mensagem para o seu entendimento. O valor de troca ou de mercado no mundo simbólico dos conteúdos do texto são medidas imponderáveis,
Na realidade prótese do ciberespaço há que considerar, ainda, que artefatos informacionais em rede digital, são objetos de informação que estão, ou em se fazendo ou que, apesar de acabados, podem ter seu conteúdo modificado continuamente, devido a um sucessivo diálogo com o gerador ou uma conversação com um coletivo de participantes. Aqui só pode existir um valor circunstancial de uso da informação, pois a sua utilidade para o receptor está pendente de um acabamento.
A medida de relevância e de valor está presa em uma relação de expectativas circunstanciais do usuário que espera contar com a coisa pronta. Valor e relevância estão presos em um determinado momento de completeza na expectativa de um de fechamento esperado. O Painel da ONU sobre o tempo e a Rede de pesquisa do DNA são exemplos, pois elaboram documentos que estão em se fazendo.
A propriedade intelectual de uma informação que se encontra em se fazendo e em um suporte digital, que é socialmente construída por diversos geradores dependerá de se estabelecer um código de convivência e trocas ainda não pensado e restará determinar na finalização de quem é a propriedade da coisa toda.
Aldo de A Barreto
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* por mercadoria estamos indicando, somente, a condição técnica de produção de um produto. Não estamos, aqui, vinculando ao termo a ideologia relacionada com os fatores de produção.
* por mercadoria estamos indicando, somente, a condição técnica de produção de um produto. Não estamos, aqui, vinculando ao termo a ideologia relacionada com os fatores de produção.
Um comentário:
Muito obrigada pela explicação!
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